Já escrevi neste blog sobre
museus estranhos e diferentes. São tantos mundo afora que, numa viagem, é quase
certo que você irá se deparar com algum deles. Pode ocorrer que a temática não
lhe atraia num primeiro momento. Neste caso, atenção! Você poderá desperdiçar
boas oportunidades de aprender e conhecer coisas novas. Então vai uma dica:
diante de um museu fora do circuito tradicional (de artes ou histórico),
invista um pouco do seu tempo. O destino costuma reservar boas surpresas.
Foi com este pensamento que
entrei já no cair da tarde de uma quinta-feira no Bata Shoe Museum, em Toronto
(Canadá). Trata-se, como o nome indica, do museu do sapato (genericamente
falando). Um prédio de três andares, relativamente pequeno para os padrões
museológicos, arquitetonicamente bonito (exibindo traços contemporâneos em sua
fachada e funcional em seu interior), com toques ousados, a poucas quadras dos
“monstros” locais – o ROM (Real Ontario Museum) e o AGO (Art Gallery of
Ontario). Portanto, plena e facilmente acessível.
Em seu slogan, o Bata Shoe carrega
um dos motivos que, tal como ocorrera comigo, pode levá-lo até lá ainda que
você não entenda nada de sapatos, moda ou assuntos correlatos: “For the
curious” (“Para a curiosidade”). A exibição é extremamente bem montada do ponto
de vista estético e visual: elegante como o tema exige e com um design especial
(com destaque para as cores e a iluminação).
Segundo o site oficial, o
museu “celebra o estilo e a função do calçado” em quatro galerias. Dos sapatos
da China e sandálias do antigo Egito aos glamorosos plataformas da atualidade,
são 4,5 mil anos de história contados na mostra principal – “All About Shoes”
(“Tudo sobre sapatos”). As outras três galerias apresentam exibições
temporárias, o que garante sempre uma novidade ao visitante.
O museu é fruto da coleção
particular de Sonja Bata, iniciada nos anos 1940. Sonja era esposa do executivo
da Bata Shoe Company. No total, são cerca de 12,5 mil artefatos. Eles contam a trajetória
dos calçados ao longo dos tempos e uma história de “beleza, identidade e
orgulho” dos sapatos dos povos nativos da América do Norte. Revelam, assim, a
íntima ligação que existe entre um simples acessório e a cultura de um lugar e
de um determinando tempo (por incrível que pareça, algo que muitos de nós
negligenciamos ao vestir um calçado qualquer).
Acredite: a visita vale a
pena! Não só para sua curiosidade, como prega o slogan do museu, como também
para sua diversão. Existem calçados de todos os tipos, exóticos e estrambóticos
(imagine algo inimaginável e você encontrará na versão para os pés). Há verdadeiras
peças de artesanato e, por que não?, obras de arte. Minicalçados; sapatos de porcelana
e vidro, de palha, madeira e cobre, com salto centralizado ou com algo
semelhante a pregos; calçado em formato de cisne, com torneira no bico e até
com cara de gente.
A exposição tem também um
painel com sapatos que fizeram história, como a de um dos astronautas que pisaram
na lua, e que contam anos de história (da secular sandália de madeira chinesa ao
Nike do astro do basquete). Num outro painel, calçados que ficaram famosos por
vestirem pés de artistas da música, do cinema etc. Com tanto a mostrar, é
impossível não se surpreender – e até se fascinar.
E pensar que tudo ali gravita
em torno de um único e muitas vezes modesto acessório, que surgiu basicamente da
necessidade humana de proteger os pés (dos terrenos e do clima). Um artefato
que ao longo das décadas ganhou importância como peça do vestuário (e,
portanto, do modo como o ser humano se apresenta, algo revelador na sociedade).
Ainda que continue sendo um simples sapato. E quanta história eles têm para
contar...!
* As fotos são minhas e de
Carlos Giannoni de Araújo
PS: em breve, mais um museu diferente. Aguarde!
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