O Central Park é o coração (e o pulmão, dizem muitos) da
ilha de Manhattan, por sua vez o coração da cidade. É um dos ícones
nova-iorquinos, um símbolo da metrópole, um dos seus principais
cartões-postais. Vê-lo mudar a cada estação - tal como o Japão - é mais do que
apreciar as variações de uma paisagem; é vivenciar um verdadeiro espetáculo da
natureza.
Obviamente, para a grande maioria das pessoas essa
experiência sensorial só pode ser vivida bem de perto, ali dentro, em tempos e
espaços exatos, tal como se eles – o tempo e o espaço – parassem por um
instante. Ainda que se vá até lá em cada uma das estações e se note as
mudanças, não é possível visualizar o processo ocorrendo (salvo a queda de uma
folha aqui ou o florescimento de outra acolá - a não ser, é claro, que se fique
ali parado por um ano, dia e noite).
Pois foi basicamente o que fez o cineasta Jamie Scott. Ele
passou seis meses indo até o Central Park duas vezes por semana, segundo
informa o blog de Pedro Andrade, para captar com sua lente a nuance das mudanças
de estação. Algo mágico, divino, a natureza se transformando – algo que a ampla
maioria das pessoas só consegue ver em tempos e espaços exatos.
Filmar um espetáculo é meio caminho para se chegar a outro
espetáculo. Foi o que Scott conseguiu:
Ainda não tive a oportunidade de conhecer as quatro estações
do Central Park. Estive lá no início da primavera e no início do outono. Quando
o verão se despede e o rigor do inverno está ainda um tanto distante, o parque
mantém os contornos esverdeados, em diversas tonalidades, iluminados pelos
raios amarelados do sol. Como no ápice do calor, tudo parece mais vivo. E o
parque faz jus à alcunha de “mar verde” em meio ao concreto dos arranha-céus.
Na paisagem agora reluzente, famílias se fazem presentes em
brincadeiras de pais e filhos, em piqueniques saborosos e passeios agradáveis;
casais trocam olhares apaixonados deitados no gramado enquanto os pássaros
cantam a sinfonia ideal para um momento de amor. Aqui e acolá, é verdade, um e
outro pinheiro exibem o esbranquiçado típico de suas folhas, tal qual um cabelo
grisalho, mas apenas para anunciar que uma nova estação chegou. Logo tudo será
dourado, um dourado que vai ganhando tons envelhecidos, de ferrugem e cobre...
É o momento mágico do outono, que eu ainda não vi.
E quando a primavera se apresenta, árvores secas,
desfolhadas, ainda protagonizam a paisagem, dividindo espaço com o verde e o colorido
da nova estação que vão ganhando espaço. O verde-amarelado das folhas surge
tímido, mas em quantidade suficiente para contornar o cenário, refletindo suas
cores nas águas escuras do lago que leva o nome de um ícone nacional, sobrenome
símbolo de poder e riqueza. Aqui e acolá, uma e outra árvore de flores
arroxeadas completam a paisagem.
Infelizmente, não tenho talento (nem equipamentos) para
apresentar espetáculos. Portanto, o que pude registrar – e posso, portanto,
mostrar – é unicamente o espetáculo da natureza. Que fez do Central Park,
criado justamente para arejar a selva de pedra nova-iorquina, um de seus
principais protagonistas.
Em tempo: já que mencionei o fato do Central Park ter sido
criado artificialmente, veja mais detalhes de como foi planejada a cidade em
uma das belas “Crônicas de Nova York” da repórter Giuliana Morrone.
* As fotos são minhas, de Carlos Giannoni de Araujo e do amigo Cristiano Persona
Um comentário:
nova york é um sonho
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