Brno é a segunda maior cidade da República Tcheca, com cerca
de 400 mil moradores, atrás apenas da capital Praga. Fica perto da divisa com a
Áustria e Eslováquia, quase no meio do caminho rumo a Budapeste, na Hungria. Tem
um nome estranho, com apenas uma vogal. A pronúncia, como de resto toda a
língua tcheca, é quase impronunciável para nós brasileiros (e, creio, para grande
parte dos cidadãos do mundo), com o perdão da aparente carência vocabular (foi
proposital a repetição).
Se quiser arriscar, tente algo como “Brrrenô”. E se achou
exagerada minha observação a respeito do tcheco, dê uma olhada no nome do
hospital da cidade: Fakultní nemocnice u sv. Anny v Brně.
E se achou pouco, a descrição disponível na Internet é: “Základna pro výchovnou
a vzdělávací činnost Lékařské fakulty Masarykovy university, zdravotnických
škol
a Institutu pro další vzdělávání zdravotnických...”. Bem, acho
que já é possível seguir adiante, não?
E o que, afinal, justifica conhecer Brno? Simples. A
catedral de São Pedro e São Paulo, no alto da colina Petrov, domina a paisagem
e é das obras mais bonitas do país. Sua fachada toda de pedra lembra os tempos
medievais – a origem do templo data do século 13, mas como em outros na Europa
houve várias mudanças arquitetônicas ao longo dos anos, culminando com as duas torres
do início do século 20.
Pontiagudas, as torres podem ser avistadas de longe e se
assemelham às da capital. “É difícil imaginar o
horizonte de Brno sem as torres gêmeas
da catedral”, cita o site do órgão oficial de turismo da República Tcheca. É
possível subir nas torres, de onde se tem uma belíssima vista da região.
Descendo a colina pela rua Petrská,
ainda bem perto da catedral, fica a Zelný trh, uma praça cercada de prédios com
bela arquitetura, todos em tons pastéis. Em destaque o Palácio Dietrichtein,
que sedia o Museu Regional Moravo. A praça abriga ainda uma fonte barroca,
chamada Parnas. Construída entre 1690 e 1695, ela lembra uma gruta e traz em
sua decoração alegorias dos impérios persa, babilônio e grego. A área sedia
ainda uma feira - tradicional desde a Idade
Média - igual às do Brasil, com venda de frutas, verduras e legumes em
barraquinhas.
Perto dali, a uma brevíssima
caminhada, fica a Náměstí Svobody (ou Praça da Liberdade), o centro
nevrálgico de Brno. Trata-se de um amplo espaço em formato triangular, cercado
de prédios com a mesma arquitetura e as mesmas cores pastéis da praça da
feirinha. Em um dos cantos há uma coluna com uma imagem ao alto. É a Coluna da
Peste, datada de 1679-80.
No trajeto entre as duas praças,
na Dominikánská Náměstí, fica a Igreja
de São Miguel. Relativamente simples do ponto de vista arquitetônico, ela tem
como destaque a série de imagens em pedra ao seu redor. O templo fica grudado
(e não é força de expressão) a um pequeno palácio de fachada amarelada, com uma
modesta torre, onde há um relógio – lá funciona a nova Câmara Municipal
(espécie de prefeitura).
Em Brno, haverá sempre muitos
jovens, já que é uma cidade tipicamente universitária – as escolas superiores
estão espalhadas por todo o centro e são facilmente vistas. Chama a atenção também
o sistema de transporte, operado por modernos bondes de superfície, que dividem
espaço nas ruas com veículos e pedestres, como em praticamente todo o leste
europeu.
O principal motivo, porém,
para conhecer Brno não é exatamente sua catedral, seus prédios com fachada
robusta (é assim que chamo as edificações que exibem grandes pedras
externamente), tampouco sua história. O que mais atrai em Brno é a experiência
de conhecer a vida típica numa cidade do interior da República Tcheca.
Como costumo dizer, em nenhum
país a capital é exemplo da vida dos cidadãos. Capitais são sempre exceção –
daí a importância de se embrenhar mata adentro, ou melhor, estrada adiante,
para de fato conhecer um país, sua cultura e sua gente. E em Brno é onde se vê
que a vida é boa na antiga república socialista.
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