Caminhar é preciso

Houve um presidente que disse certa vez que governar é construir estradas. Pois, para mim, viajar é construir pontes. Pontes imaginárias. Para tanto, caminhar é essencial. Os metrôs e ônibus são práticos e, muitas vezes, indispensáveis, mas não é possível conhecer um lugar a fundo, a sua alma, sem que se tenha caminhado.
Apenas a caminhada permite que se veja o cotidiano, que se sinta o clima, que se observe as feições, que se conheça as entranhas e os segredos de um lugar. Quem abre mão desse prazer está indiscutivelmente perdendo. Perdendo o que é, talvez, tão importante quanto qualquer ponto turístico: a alma de um lugar.
Em qualquer roteiro de viagem, uma caminhada é essencial. Daí ser um tanto estranhas aquelas viagens tipo foguetão, em que se desce do ônibus para ver um ponto turístico (quando se desce) e sobe-se novamente para ir ao próximo. Já participei desse tipo de viagem e posso dizer: é frustrante. Tem-se a mesma sensação de um cartão postal - ou seja, estive lá, mas é como se não tivesse estado.
Se navegar um dia foi preciso, caminhar é preciso. Subir e descer ladeiras, passear nos parques, cruzar ruas e avenidas... E não basta ser uma caminhada apressada. É preciso entregar-se a esta tarefa, permitir que a alma do lugar e a alma do turista tornem-se uma só. Pode parecer abstrato - e é. Como aprendemos na escola, abstrato é tudo aquilo que não podemos desenhar. Pois é impossível desenhar o sentimento captado numa caminhada. Ouvir sotaques, observar as roupas e os costumes, ver a limpeza ou a falta dela, sentir o ordenamento do trânsito ou a falta dele... Definitivamente, caminhar é preciso.
O mais interessante e importante disso tudo é que uma vez entregue à caminhada, facilmente o viajante chegará à conclusão de que nunca, nunca, uma mesma caminhada será igual à outra - ainda que se esteja passando pelo mesmo lugar. Eis a vida. A vida de uma cidade, que muda a cada instante. E com um pouco de sorte e determinação, a caminhada poderá levar a algum lugar agradável. Quem sabe a um ponto turístico ou a um barzinho.
Sim, você poderá ir à Torre Eiffel - e deve ir. Contará sua história e sua versão. Muitos, talvez, compartilhem de suas emoções. Ninguém, porém, há de caminhar como você. Sem uma caminhada, você poderá até ter conhecido a Torre Eiffel; só com uma caminhada, contudo, terá conhecido Paris.
E isto vale para Londres, Nova York, São Paulo, para sua cidade, seu bairro...

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