Uma aventura pelo deserto peruano

O deserto ocupa parte do território peruano. Na areia seca, civilizações deixaram marcas profundas, que despertam a atenção de curiosos, místicos e estudiosos do mundo todo. Mas ele também é sinônimo de aventura. Você já imaginou jantar no deserto sob a luz da lua?
Para chegar ao deserto, pegamos a estrada rumo ao sul a partir da capital Lima. Duzentos e cinquenta quilômetros em direção a Paracas, no departamento de Ica. No meio do caminho, o clima desértico já domina a paisagem. A rodovia rasga a areia seca como uma veia. Dos dois lados, planície e montanhas. De vez em quando surgem e alguns arbustos e vilarejos.












Na beira do mar, Paracas é uma cidade simples, como muitas no interior do Peru. Tem ruas de terra e casas sem acabamento. A pesca e o turismo são as bases da economia. Paracas é o ponto de parada de muitos aventureiros. A cidade pode ser considerada uma das portas do deserto. Um dos mais secos do mundo.
Mas para conhecer mesmo o deserto é preciso enfrentá-lo. No entardecer, nossa equipe deixou o asfalto e partiu areia adentro para uma verdadeira aventura. No meio do caminho é preciso parar o carro para mexer nos pneus. “Tem que baixar a pressão dos pneus para que eles tenham um maior espaço de contato e maior tempo de contato com o terreno e isto significa maior tração e menor probabilidade de ficar atolado na areia e poder continuar”, explica o piloto e guia Jesús López. “O que sente cada vez que vem aqui?”, pergunto. “O deserto é uma paixão para nós que dirigimos 4 x 4”, diz.
E o entardecer proporciona um cenário simplesmente espetacular!




A noite cai e seguimos entre subidas e descidas pelas dunas. À frente, apenas os feixes de luz do farol do carro iluminam o trajeto. É para quem gosta mesmo de aventura. Até que surgem alguns pontinhos de luz abaixo. E é para lá que nós vamos.
Eram quase sete horas da noite, no meio do deserto, a única coisa a iluminar o cenário, além do carro, era a luz da lua. E depois de descer uma duna de quase 50 metros, chegamos a um ambiente preparado para um jantar, no meio da areia do deserto. E para começar, a recepção é com champanhe. Bem-vindo ao deserto de Ica!





No meio do deserto, a escuridão é quase total. E o silêncio é quase absoluto. Mas o deserto guarda outras surpresas...

* Texto originalmente feito para o programa "Matéria de Capa" (TV Cultura, dom., 19h30)

Lima: história milenar e belos jardins

Um país quase sete vezes menor do que o Brasil e com uma história rica. O Peru ganhou destaque nos últimos anos na América do Sul pelas taxas de crescimento de sua economia, mas é atrás dos mistérios do seu território que fui até lá. A jornada começou na capital Lima, que preserva estruturas milenares.
Ao andar pela cidade, os jardins chamam a atenção. Belos e bem cuidados, nos bairros e no centro. Na Praça das Armas, onde estão o palácio presidencial e a catedral, as flores coloridas encantam os olhos. Ao lado de construções históricas e da arquitetura colonial, as cores contrastam com o céu cinzento, uma marca local. 











Mesmo à beira do Pacífico, o sol é raro em boa parte do ano, dizem os moradores. Mas quando ele resolve aparecer, é um espetáculo...




Em certos aspectos, como o céu cinza, Lima se parece com São Paulo. "O trânsito é complicado, acho que é pior que o Brasil, agora em relação à limpeza, segurança, estão de parabéns, a cidade é bem tranquila, dá para caminhar...", diz o professor Augusto Machado. "O pessoal é hospitaleiro, receptivo, o trânsito é um pouco desorganizado. A gente se assustou um pouco nesta parte, mas no restante o país é maravilhoso", cita o vendedor técnico Adilson Farias.
Lima foi fundada em 1534 pelos colonizadores espanhóis, mas sua história é bem mais antiga. A região onde foi estabelecida a capital do Peru é tida como um centro religioso de muitos povos. E eles deixaram vestígios, como as huacas. Um monumento impressionante, construído com uma espécie de tijolo cru. São milhares de peças. Assim, lado a lado, parecem um exército.
Na capital do Peru existem 200 huacas como a huaca Pucllana. Há um século eram 400. Apesar disso, ainda chama a atenção verificar como estas estruturas foram preservadas no meio de toda a cidade. As pilastras para manter de pé o prédio em construção e a firmeza de uma obra com séculos de existência são um contraste. O antigo e o novo, passado e futuro, separados por poucos metros. Esta famosa huaca fica no coração do bairro de Miraflores, um dos mais nobres de Lima.









Segundo estudiosos, o lugar foi usado por quase mil anos, até o século 8. Pertenceu aos povos lima e depois aos wari. Parte do tempo, cerca de quatro séculos, a huaca Pucllana serviu de templo. Depois, foi cemitério. Exemplos de tumbas de diferentes povos podem ser vistas no local. Em comum, a crença de que a vida continua após a morte. Os bonecos simulam um ritual feito com alimentos e animais encontrados na região, como sapos.
Na cultura andina, huaca se refere a uma divindidade ou ao lugar onde ela é cultuada. Em quechua, a outra língual oficial do Peru, além do espanhol, a palavra significa sagrado. Embora tenha um formato escalonado parecido ao das tradicionais pirâmides pré-colombianas, a huaca Pucllana tem várias divisões, como um vilarejo. Os troncos indicam que esta área pode ter sido uma praça, usada em rituais. Muitas paredes são altas, impedindo a visão do outro lado. Outras são mais baixas, como cercas.
A estrutura parece ter um único tom, de areia, mas um olhar mais atento permite ver que algumas peças preservam uma cor amarela. Um sinal de decoração. Com o passar do tempo, as huacas foram cobertas e desapareceram. Muitas ainda estão escondidas dentro do que parece ser apenas montes de areia, como em um dos lados da huaca Pucllana.





* Texto originalmente feito para o programa "Matéria de Capa" (TV Cultura, dom., 19h30)

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