Crônicas da Itália – n° 2

A lua sobe tão rapidamente quanto a temperatura cai. Sinto um pouco de frio, mas resisto. Poucas vezes vi um lugar assim tão... fascinante. Atraente. Fascínio e atração são sentimentos que andam de mãos dadas por uma cidade apaixonante, nada mais adequado. E pensar que a Piazza Bra é só mais um ponto de atração em Verona. Ainda não vi imagem mais formosa que a do rio Ádige. Pisar o chão que outros pisaram há dois mil anos, então, há sensação mais louca?
No anoitecer da Piazza Bra, os pensamentos se amontoam e confundem. O lugar que preserva um dos mais significativos exemplares de uma arena romana também cede espaço em sua volta aos palácios della Gran Guardia e Barbieri. E logo ali, ao lado, vê-se a Porta Bra, o grande arco que serve de entrada triunfal para a praça de nome estranho, quase uma onomatopeia– Bra!
Na praça, onde o verde figura como coadjuvante da mágica e histórica arquitetura, jovens mães empurram carrinhos com seus bebês; pais brincam com seus filhos pequenos; senhores discutem os rumos da Itália sentados nas dezenas de banquinhos; turistas de toda parte – numa verdadeira babel - conversam nos restaurantes; famílias passam admirando a beleza do lugar. Parado ali, reparo na placa que informa as atrações de inverno e algo me soa familiar: “Dona Flor e i suoi due mariti”, o clássico “romanzo” de Jorge Amado.
As cores e as flores dão alegria ao lugar. Assim como o artista de rua. Fingindo-se de estátua, fazendo-se de “sombra”, atrai com suas brincadeiras infantis, inocentes, engraçadas a presença de crianças e adolescentes e os olhares de adultos tímidos. Há um pouco de Chaplin naquele homem, na sua ação muda, nos seus gestos surpreendentes. Definitivamente não há monotonia possível na Piazza Bra, ainda que caia o luar. Porque a lua simplesmente se soma ao cenário, às vezes até roubando a cena com sua luz brilhando alto, iluminando o chão. Não há canto para onde se olhe que a admiração não se manifeste.
A temperatura em queda vai dando sinais de que a hora de partir se aproxima. E justamente por isso, cresce o desejo de ficar um pouco mais, de olhar um pouco mais. Sempre mais na apaixonante Verona.


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