As cores da grande cidade

“Nova York, o inacreditável e miraculoso lugar dos lugares, que tinha sido o objetivo de seus corações desde a infância, o fim da estrada das jovens aspirações e dos planos infantis secretos.
(...) os mil estímulos que formavam a onda e o movimento e o estilo brilhantes da vida em Nova York.”
Jack Kerouac*

É impossível imaginar Nova York sem seus sons e suas cores. Sobre os primeiros, já escrevi neste blog (leia aqui). Restam, pois, as cores. E a chamada “Big Apple” é cheia delas. Dos “yellow cabs” (os famosos táxis amarelos) às milhares de luzes da Times Square, sem esquecer o colorido dos grafites, a “street art” que nasceu na periferia da cidade e se espalhou mundo afora.
Por isso, Nova York merece ser vista com atenção. Repare, por exemplo, nas cores dos bairros. Greenwich, SoHo, West Village, D.U.M.B.O., cada canto da ilha de Manhattan tem fachadas com cores características. Acinzentadas, avermelhadas, amareladas. Por isso, caminhar despreocupadamente pelas ruas, de modo errante, é um fascínio visual. Vai-se identificando as áreas por suas características numa cidade que abriga dentro de si várias cidades.



Nova York também tem sua porção verde (ou amarela se for outono). O grande retângulo de 341 hectares que se estende das ruas 59 à 110, criado em 1857 e nomeado Central Park, é um quadro impressionista no meio da selva de concreto. A imensidão verde é melhor vista do alto, mas é do chão que as cores ganham vida, em cada folha, em cada planta. Tons de verde brilham iluminados pelo sol forte do verão; tons de amarelo, bronze e marrom emanam brilho quando o sol já não é mais tão frequente e a temporada de neve se aproxima.
Nas vitrinas e fachadas das lojas, as cores também se multiplicam. Do vermelho marcante da Macy´s aos tons escuros dos vestidos Prada, do colorido da Disney Store à maçã branca da Apple; da reluzente Toys´r´us à atraente FAO Schwarz, o fato é que em Nova York as cores vibram. E quando se chega à Times Square, o colorido assume proporções fora do comum. De dia ou à noite, as cores e as luzes ofuscam a vista. O olhar se perde em meio ao caos.
É naqueles poucos quarteirões, que a imensidão visual da “Big Apple” se revela. Da economia à vida cultural, da política à polícia, o pequeno grande mundo nova-iorquino se faz presente. Nos letreiros incessantes – com números que resumem, para quem entende, a situação econômica mundial - da Dow Jones e Nasdaq; nos anúncios fantásticos, com leões e fantasmas, dos shows da Broadway; das notícias que anunciam quem ganhou e quem perdeu, quem entra e quem sai; dos paineis luminosos com propagandas das grandes marcas mundiais, de tênis a refrigerante, de “fast-food” à informática, o mundo passa por ali. Dessa avalanche visual de Times Square, é absolutamente impossível escapar.






A diversidade de cores característica da cidade surge também nas vestimentas e na tonalidade da pele. Há mais de um século, gente de todo mundo desemboca ali, cada qual carregando sua cultura e suas tradições. Asiáticos, latinos, africanos, europeus, brancos, negros, pardos, amarelos, árabes, judeus, católicos, mórmons... A multicultural Nova York não podia deixar de ser multicolorida. E essa profusão de cores e luzes não podia deixar de invadir a alma de quem a visita. Não tem jeito, não tente escapar, não tente resistir, será em vão. “Welcome to the bright light!”, como cantou Jay-Z. “Lights is blinding”. Quer uma dica, então? Renda-se às cores da cidade, “street lights, big dreams all looking pretty”, “big lights will inspire you”…

* Frase retirada do livro “Cidade pequena, cidade grande”, L&PM Editores, Porto Alegre, RS, 2008, p. 121 (menção citada em outra postagem e repetida aqui propositadamente).

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