A conquista dos espaços públicos



Uma das situações que mais me chamam a atenção sempre que viajo é a utilização do espaço público, a forma como a comunidade lida com o coletivo. Pode parecer besteira, mas este detalhe é revelador do grau de educação e cidadania de um determinado povo. Para um brasileiro, este detalhe é ainda mais interessante porque permite que confrontemos a realidade exterior com a nossa - marcada via de regra pela pouca valorização do espaço público.
Um aspecto que chama minha atenção é o valor que se dá a um gramado. Isto mesmo! No Brasil, temos a mania de querer enfeitar tudo para que um determinado espaço tenha valor. Pois em vários países basta um gramado, um amplo e verdejante gramado, para que nele se instale a vida. São famílias fazendo piquenique, jovens e adultos lendo solitariamente ou ouvindo música (ou as duas coisas ao mesmo tempo), pais brincando com seus filhos, enfim, vida. Não são necessárias grandes estruturas, nada. Só um gramado. E, claro, a plena noção de que se trata de um espaço público, de convívio público. Este é o segredo.
Sei que parece pouco, mas não é. Só quem vivencia esta experiência sabe do que estou falando. Grandes gramados, grandes espaços públicos, valorizam as cidades, dão um ar de liberdade, incentivam a cidadania, a vida coletiva. Grandes parques em grandes capitais, como o Hyde Park, em Londres, são essencialmente extensos gramados (claro que há monumentos, estou falando da terra da rainha, mas ainda assim o que prevalece é o aparente vazio de um manto verde).
No Brasil, algo semelhante ocorre com as praias, mas essa comparação fica comprometida por se restringir às cidades litorâneas. As cidades brasileiras precisam de muito mais "Ibirapueras". De início, a ocupação dos espaços pode até ser pouca e a falta de cuidado prevalecer, mas é preciso dar o primeiro passo. É preciso educar a sociedade a valorizar os espaços de convívio público. Para isso, antes de mais nada, é preciso que nos enxerguemos como comunidade. É preciso que saibamos respeitar o espaço alheio. É preciso derrubar os muros (veja nas mensagens desta postagem texto que trata dos muros que cercam a USP, em São Paulo).
Nossas cidades nunca serão definitivamente cidades enquanto os espaços públicos não tiverem valor. E para que tenham valor, não é preciso investir muito. Basta um gramado.
PS: na seqüência das fotos, grandes áreas verdes em Amsterdã (Holanda), Londres (Inglaterra) e Lisboa (Portugal).

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