Uma "ode" a Nova York

“I’m leaving today. I want to be part of it, New York, New York. (…) I wanna wake up in a city that doesn’t sleep, and find I’m king of the hill, top of the heap.”
(“New York, New York”, de Fred Ebb e John Kander)

“In New York, concrete jungle where dreams are made of. There’s nothing you can’t do, now you’re in New York. These streets will make you feel brand new, the lights will inspire you, lets hear it for New York, New York, New York.”
(“Empire State of Mind”, Jay-Z)

Eternizada na voz de Frank Sinatra, aquele que provavelmente melhor a traduziu, Nova York ganhou recentemente um outro hino. Não se trata de um novo jazz. Com uma batida de rap e hip hop, Jay-Z é o responsável por isso. Não é à toa que ele mesmo canta ser o novo Sinatra. Curiosa e paradoxalmente, embora com estilos muito diferentes, Sinatra e Jay-Z são exemplos do que Nova York é capaz de produzir. Suas músicas -“New York, New York” e “Empire State of Mind” - revelam duas facetas de uma mesma cidade.
Não, reduzir Nova York a duas facetas é subjugar sua diversidade, sua multiplicidade étnica e cultural. Sinatra e Jay-Z revelam facetas de uma mesma cidade. Do glamour ao pop, do centro à periferia, de Manhattan ao Brooklyn e ao Harlem... Em comum, ambos cantaram uma terra de oportunidades.
Impossível não concordar. Nova York é o tudo e o nada, o princípio e o fim, o antigo e o novo, a tradição e a vanguarda, a decadência e a ascensão. O paradoxo vive em suas esquinas. Ela é boa justamente naquilo em que é má. Acolhe a todos e não acolhe ninguém. Nela você pode se sentir entre iguais justamente porque há tantos diferentes. Nela você pode se sentir especial mesmo sendo apenas mais um. Este é o lance: em Nova York, todos são apenas mais um. Seja Woody Allen, eu ou você. E todos são alguém especial, ainda que seja simplesmente por estarem em Nova York.
A cidade fundada por holandeses onde antes havia tribos indígenas recebeu imigrantes de toda parte do mundo. Judeus e italianos predominaram em determinados períodos, assim como chineses, africanos e latinos predominam hoje nas correntes imigratórias. Como paradoxo é a marca da cidade, é também a marca de seus moradores. Os imigrantes deram a Nova York o que ela tem de melhor e de pior.

A terra do prefeito Rudolph Giuliani foi a mais violenta das cidades (um exagero, claro, mas em Nova York todo exagero é possível) e deu ao mundo o melhor dos programas de combate à criminalidade (talvez também um exagero, mas... acho que eu já disse essa parte). Tolerância zero e tolerância total – esta é Nova York. A terra do prefeito Michael Bloomberg viu as Torres Gêmeas ruírem e viu manifestações de paz e solidariedade nascerem por todos os cantos.

Em Nova York, a bolsa estourou e abriu caminho para a Grande Depressão. De Nova York veio a redenção. A bolha da Nasdaq cresceu e explodiu. Lá, morreram os heróis e os vilões. Nos museus estão a antiguidade do Egito e a contemporaneidade de Andy Warhol e Vik Muniz. O Met e o MoMA. A salvação e a perdição. O grafite e a pichação. A cafonice e o brilho da Broadway. A Broadway e a street art. As luzes ofuscantes da Times Square. O luxo e o lixo da Quinta Avenida. A selva de pedras (da qual o Empire State é seu melhor símbolo) e o jardim do Éden (ou seria Central Park?). Só em Nova York com a retidão de seus arranha-céus poderiam brotar as curvas magnificamente desenhadas por Frank Lloyd Wright para abrigar o Guggenhein.
Em Nova York, você cansa e não se cansa. Em Nova York, tudo passa e tudo fica. Ela emana poder sem ter poder – ou sem ser o centro do poder. Em Nova York, o mundo pode sonhar. Sob os olhares atentos e distantes da Senhora Liberdade. “Agora você está em Nova York.”

Postagem em destaque

A Veneza verde do Norte

A tecnologia que empresas suecas levam mundo afora hoje em dia não é um acaso. O país tem vocação para invenções e descobertas. O passado v...

mais visitadas