Um sabor tipicamente suíço

Seguindo a viagem pelas tradições suíças, fomos conhecer os famosos queijos. Os furinhos são inconfundíveis. Estamos diante de um sabor tipicamente suíço, mas não pense que existe um único tipo de queijo. Cada região produz o seu, com aromas e cores diferentes. Um verdadeiro menu.
A produção de um dos mais famosos e saborosos queijos do mundo começa nas pastagens em Affoltern, no vale do rio Emmental - que dá nome ao produto. A menos de 40 quilômetros da capital Berna, uma paisagem rural de tirar o fôlego. Pequenas fazendas em meio a montes verdejantes. Num cenário destes, chega a dar inveja das vaquinhas. As vacas da Suíça estão entre as maiores produtoras de leite – de 30 a 40 litros por dia.
Para fazer um queijo com oito quilos, são necessários 100 litros de leite. Ou seja: três vacas.


 


 




Após acrescentar alguns tipos específicos de bactérias, o leite é deixado em descanso por meia hora. Já cremoso, é misturado e cortado com um equipamento com cordas. É preciso quebrar grandes blocos até que fiquem do tamanho de um grão de milho. A partir daí é só mexer, mexer... por cerca de 40 minutos, até atingir a temperatura ideal - no caso do queijo Emmental, 43 graus. Até eu tive que dar uma ajudinha. 


Depois é só puxar o queijo com um tecido, deixar escorrer bem o líquido, colocar na forma e esperar secar. Para comer, será necessário aguardar pelo menos quatro meses até que o queijo fique curado.
O trabalho é feito de modo todo artesanal, mas exige uma formação específica. Toni Lauber trabalha com informática há 30 anos, e há três decidiu virar mestre queijeiro. Ele reserva os fins de semana para essa atividade, que faz com prazer. Eu pergunto qual o segredo do queijo suíço. “É o cuidado que a gente tem com o queijo. Temos que cuidar diariamente", disse.










E para cuidar do produto é preciso um lugar especial. Muita gente já ouviu falar em adegas de vinho e nós fomos conhecer uma adega de queijo - são 600 peças, quase cinco toneladas do puro queijo suíço.


Mas para abastecer o mundo, a produção tem que ser industrial.
  

A 90 quilômetros do vale do Emmental, em Engelberg, fomos conhecer outro tipo de queijo - chamado Engelberger Kloster. Ele está ligado a um mosteiro beneditino do século 12, que deu origem à cidade. O modo de produção é basicamente o mesmo. “É tudo leite na origem, mas há diferentes sabores de queijo”, diz o mestre queijeiro Ernst Odermatt.



Depois de ajudar a fazer tanto queijo, é hora de experimentar. E se o queijo é um dos produtos típicos da Suíça, ele não podia faltar até na feira livre. Tem queijo de todo tipo, Quanta delícia! E quanta variedade! Eu quis saber qual o tipo de queijo preferido dos clientes. A vendedora conta que a especialidade é o queijo feito com leite de cabra na região de Brunnen, mas os de vaca também vendem bem, diz ela.




Só para constar: os suíços comem 21 quilos de queijo por ano, em média.


* Texto original de reportagem feita para o programa "Matéria de Capa" (TV Cultura, dom., 19h30)

A tradição dos relógios suíços

E já que na Suíça não dá para perder hora, o país ficou famoso também pelos relógios. As melhores marcas do mundo estão lá. Em Genebra, tem relógio de todo tipo, até de flores. A cidade é considerada a capital mundial desse acessório.

A vocação teve impulso no século 16, quando os ares da reforma protestante chegaram por lá. O movimento que contestou as bases do catolicismo proibiu o uso de joias e, para os trabalhadores joalheiros, restou migrar para o ramo de relógios. Hoje, a cidade abriga fábricas das marcas mais cobiçadas do mundo. Os produtos feitos lá podem ser apreciados nas vitrines. É só dar uma voltinha pelas principais ruas do comércio local.



A fábrica da Custos é nova, foi fundada em 2005. Fica no tradicional bairro de São Gervásio, onde nasceu a indústria relojoeira de Genebra. Tradição unida com modernidade, diz um dos fundadores. Formado em engenharia micromecânica, Antonio Terranova é responsável pelo desenvolvimento das tecnologias embutidas em cada relógio.
São 35 funcionários, 80% deles portugueses. Eles fazem entre 1,5 mil e 2,5 mil relógios por ano. Um produto relativamente raro, feito com paciência e precisão. A diferença se reflete no tempo de trabalho: nas grandes fábricas, um relógio é concluído em 20 minutos; na Custos, leva quatro horas - 80% do trabalho são feitos de modo artesanal, o que significa foco nos detalhes. É preciso mesmo ter atenção para trabalhar com peças tão pequenas. São de tungstênio, titânio, aço, vidro e pedras como safira e rubi.
O resultado de tanta perícia é um produto que mistura performance, eficácia, elegância e precisão. Os relógios da Custos chegam a valer US$ 350 mil.



Na capital Berna, a precisão dos relógios virou atração. A torre do relógio fica na principal rua do centro histórico. Serve como uma fronteira entre passado e presente. A cada hora, pessoas de todo o mundo param para assistir a um show que atravessou séculos. Mas para conhecer melhor essa história é preciso subir escadas.
Num país conhecido pela pontualidade e pela fama de seus relógios, talvez nenhum outro local seja tão importante neste quesito do que o coração da torre, onde fica o maior relógio da Suíça. Acredite: o mecanismo está lá desde 1530. Isto significa que o pêndulo está balançando há quase 500 anos. Cada engrenagem tem uma função, algumas para marcar os minutos e as horas, outras para movimentar cada personagem do relógio.







De quebra, quem vai até lá ganha de presente uma bela vista da cidade.



Para uma capital, Berna é bem tranquila. Nada de trânsito, poluição, correria... Com cerca de 150 mil moradores, 80 vezes menos que São Paulo, a cidade considerada patrimônio mundial graças à preservação do centro antigo da época medieval exibe seu charme nas fachadas, fontes e nos seis quilômetros de arcadas hoje tomadas por lojas – o mais longo calçadão de compras coberto na Europa.








No Rosengarten, os visitantes se encantam com a beleza das rosas. As crianças se divertem e os adultos aproveitam para descansar. O parque, no topo de uma pequena colina, oferece uma bela vista de Berna, contornada pelas águas verdes do rio Aar.















Ali perto, nas margens do rio, fica o parque dos ursos. A história de Berna está diretamente ligada a eles, por isso o parque é tão especial e atrai tantos turistas. Conta a lenda que quando um duque chegou por lá no século 12, disse que daria o nome ao lugar ao primeiro animal que conseguisse caçar. E o primeiro animal foi um urso - daí o nome da cidade, que significa ursos em alemão.



A pequenina e charmosa capital suíça esbanja qualidade de vida. Como toda a Suíça. “O que mais chamou minha atenção quando cheguei aqui foi a organização, a educação do povo, porque tudo funciona, a segurança, a estabilidade, a saúde, o transporte, tudo”, diz a psicóloga Valquíria Sousa Ferreira. “É um país lindo, acolhedor, em que há beleza natural em todas as partes. Por onde você anda na Suíça vai encontrar um encanto. Você tem a impressão de que a Suíça é algo que não é verdadeiro, que foi pintada, montada, lugares esplendorosos”, comenta.
Parece cenário de filme ou embalagem de chocolate...

* Texto original de reportagem feita para o programa "Matéria de Capa" (TV Cultura, dom., 19h30)


** A foto do relógio é de divulgação; as demais são minhas

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