Um fim de tarde (e uma livraria) no Brooklyn

Passeando pelo Brooklyn num final de tarde de domingo, encontrei uma livraria bastante acolhedora. Isto mesmo, este é o melhor adjetivo para definir o lugar. Primeiro porque estava aberto num final de tarde de domingo. Segundo porque o lugar era todo charmoso. Terceiro porque o atendente mostrou-se muito atencioso. Quarto porque era uma livraria com obras diferenciadas, como a que eu comprei. Um livro de Paul Lacy chamado “Brooklyn Storefronts”, ou seja, fotos das fachadas de lojas do bairro.
O Brooklyn é um mundo à parte em Nova York – como são, aliás, cada um dos antigos boroughs que formaram a cidade. Num domingo, exibia a tranquilidade e a agitação na medida certa (durante a semana, o tráfego de veículos entrando e saindo do bairro é intenso). Lá, misturam-se com perfeição atributos de cidade pequena, cidade grande – para emprestar uma referência do notável Jack Kerouac.
Seu “riverfront”, ou seja, o parque que fica às margens do rio East está novinho em folha. Dele, tem-se uma bela visão de Manhattan e seu conjunto inigualável de arranha-céus. No entardecer, a paisagem ganha o reforço do brilho dourado do sol encontrando-se com as águas escuras do rio. Ao fundo, além dos prédios, a Brooklyn Bridge – um ícone na paisagem nova-iorquina e na ligação de um bairro com outro.
Se estiver um ventinho de outono, então, a cena fica completa. É só você escolher se quer o clima romântico, de paz, de amizade, de meditação, de encontro interior – opções não faltam. Deixe-se levar pelo clima que escolher e esqueça de todo o resto (ou, se preferir, lembre-se de tudo). O Brooklyn aceita todos os pensamentos. Naquele pedaço de terra de Nova York, como de resto em toda a cidade, cabe todo tipo de gente.
A paisagem, porém, atrai o olhar e nos desperta dos pensamentos profundos (ou da ausência deles). Aos poucos, como se o tempo ali tivesse parado, o sol vai se despedindo por detrás dos prédios, como se estivesse sendo engolido por eles. Conforme o astro-rei se perde no horizonte, raios escapam pelas frestas entre as edificações, formando verdadeiros fios de ouro – ou lanças de fogo que nos atingem diretamente o olhar (e o coração). É uma cena maravilhosamente bela!
A esta altura, você já deve ter imaginado que o Brooklyn parece encantador. Acredite: é! É preciso, porém, que você se entregue a ele. Um passeio desatento, meramente turístico, talvez não permita que o bairro se revele. De quebra, você ainda poderá visitar o belíssimo jardim botânico (o Brooklyn Botanic Garden), o melhor de Nova York, e um museu que está à altura da cidade (o Brooklyn Museum).
Quando for a Nova York, não deixe de flanar – e devanear - pelo Brooklyn. Afinal, como diz a placa na entrada do bairro, “how sweet it is”!


Em tempo: a livraria se chama P.S. Bookshop. Fica na 76 Front Street e abre todos os dias das 10 às 20h. Ela surgiu em 2006 num espaço duas quadras acima do endereço onde fui – um espaço no “coração da vida cultural do bairro”, como define em seu site. Começou atraindo amantes de livros usados e leitores da área. Com o tradicional “boca-a-boca”, passou a receber moradores de outros boroughs de Nova York. Daí para os visitantes de outras partes dos Estados Unidos e do mundo (como eu) foi um passo. E o motivo é simples: a P.S. Bookshop é a cara do Brooklyn!
Ah, a loja compra e vende livros usados e raros, primeiras edições, reedições, obras de ficção e não ficção, livros infantis, juvenis e adultos, lançamentos e edições esgotadas, em inglês e outras línguas, livros escolares, de arte, catálogos e revistas. Ou seja, tudo! O recado está no marcador de páginas que me deram junto com o livro que comprei.

PS: nos meus devaneios vendo a despedida do sol naquela tarde de domingo no Brooklyn, desejei que tudo pudesse ser diferente...

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