A Torre de Londres

O que Barack Obama, a série "Os Tudors" e este blog têm em comum? Tudo. Vendo uma reportagem sobre a posse do novo presidente dos EUA, uma pessoa entrevistada assim resumiu o que se passava naquele momento: "history, history, history". O que essa pessoa queria dizer é que a história estava sendo escrita ali, naquela hora. E que ela era participante e testemunha.
Em alguns casos, como na posse de Obama, é possível presenciar a história. Futuramente, as pessoas vão olhar para trás e dizer: "eu estive lá", "eu vi". Elas terão a plena sensação de terem feito parte da história, ainda que como coadjuvantes. Em outras ocasiões, porém, não é mais possível presenciar a história, mas esta sábia senhora deixa suas marcas. E conhecer estas marcas proporciona uma sensação muito parecida com a vivenciada pela pessoa que se sentiu fazendo história na posse do presidente norte-americano.
Para mim, viajar é essencialmente conhecer a história. Lazer e prazer vêm como consequências. Estar num lugar onde a história aconteceu é fascinante. Já vi pessoas reagirem com indiferença a isso. Já vi quem dissesse não ver a menor graça ao se deparar com um prédio histórico. Eu vejo toda a graça. Seria capaz de passar horas observando cada detalhe, pondo-me a pensar em como tudo aquilo era. É uma viagem. Uma outra viagem.
Foi justamente esta sensação que me moveu quando conheci a Torre de Londres. Antigo palácio e prisão, ela hoje virou uma espécie de museu, além de guardar as preciosidades da coroa britânica. Como atração puramente turística, ela deixa a desejar. Chega a ser inocente - parece uma Disneylândia. Você anda por aquele lugar e se depara com atores vestidos de personagens; nas salas, montagens infantis e aparelhos que servem muito mais para diversão do que para qualquer outra coisa. Pode-se, por exemplo, simular que se atira uma flecha (e estimar a força necessária para isso).
Ainda assim, a Torre de Londres é a Torre de Londres. É lá onde tantos personagens da história viveram momentos decisivos. Ela foi a última visão da Terra para muitas pessoas, menciona com certo ar de ironia o site oficial da atração (http://www.toweroflondontour.com/). Foi na torre que a rainha Ana Bolena ficou presa por 18 dias e foi decapitada por ordem do então rei Henrique VIII. Era para lá que ele mandava seus inimigos - como Thomas More (seu antigo aliado), preso em 1534 e executado em julho de 1535. Também foi para lá que a rainha Maria I, filha de Henrique VIII com Catarina de Aragão, enviou presa em 1554 a sua meia-irmã princesa Elizabeth (depois rainha Elizabeth I), filha do rei com Ana Bolena, sob acusação de conspiração. Todos estes são personagens da série e da era Tudor. Outro personagem da época que foi preso na torre (1555) e condenado à morte é o arcebispo Cranmer, celebrante do polêmico casamento de Henrique VIII com Ana Bolena.
As paredes da torre hoje são prova de tantos prisioneiros que para lá foram enviados quando o monarca implantou sua reforma. É possível ver nas antigas celas inscrições que revelam a dor e o sofrimento de muitos que estiveram por ali injustamente. Eles deixaram nas paredes poemas, mensagens, datas. Demonstraram sua fé marcando símbolos católicos. Tudo isso está lá, para ser visto e, em alguns casos, tocado (nas inscrições mais famosas, uma proteção de acrílico impede que se toque).
No local onde Ana Bolena e tantos outros (incluindo as rainhas Catarina Howard, também esposa de Henrique VIII e decapitada sob acusação de infidelidade em 13 de fevereiro de 1542, e Lady Jane Grey) literalmente perderam a cabeça, hoje resta um monumento. De sala em sala, a Torre de Londres - fundada há quase mil anos - vai se revelando. Na Londres moderna, ela pode parecer ingênua. Para quem conhece sua história, porém, ela possui um valor imensurável. sem contar que está na beira do Rio Tâmisa.

PS: quem quiser saber mais sobre a torre e o reinado de Henrique VIII acesse o campo de mensagem desta postagem.

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