Confesso que estava com muita
expectativa para conhecer as “Niagara falls”, como são chamadas em inglês. Às
vezes, quando a expectativa para algo é grande, podemos nos decepcionar. Não
foi o caso das cataratas. Elas atenderam à risca as expectativas. Aliás, foram
além – surpreenderam.
Antes de avançar, porém, uma
explicação: cataratas são formações resultantes da “ruptura longitudinal do
leito de um curso de água com desnível significativo, de modo a provocar uma
queda acentuada”. As cataratas em questão são formadas pelas águas do rio
Niagara, entre os lagos Erie e Ontario. Ficam na divisa dos Estados Unidos
(estado de Nova York) com o Canadá (estado de Ontario). Uma ponte não muito
grande liga os dois países, a Rainbow Bridge (uma clara referência ao arco-íris
que costuma dar as caras por ali por causa do efeito da luz do sol sobre a queda
de água).
As águas do Niagara -
límpidas e geladas - são de um tom verde escuro. Desabam de uma altura de 52 metros com uma força
incrível, gerando uma neblina espessa que chega a cobrir a paisagem. De fato,
são duas grandes quedas, uma que fica no lado norte-americano e outra que é
tida como canadense, embora fique mesmo numa espécie de boca entre os dois
países. Esta é a maior e mais impressionante. É para onde se dirigem os barcos
que levam há décadas turistas para uma aventura de não mais que dez minutos.
São dez minutos de
impressionar. Por mais que de cima se veja a força da água, só mesmo se
aproximando das quedas é que se sente na pele o que isto significa – e se
confirma quão forte é a vazão do rio naquele ponto mágico do planeta. Tão logo
o barco parte e ultrapassa a marca das quedas norte-americanas, a visão vai
ficando turva tamanha a quantidade de água que invade o ar. Mais alguns metros
e já não se consegue ver mais nada.
A partir daí, é só sentir.
Sentir a água batendo forte na pele, molhando tudo. Sentir a água escorrendo
pelo rosto. Sentir a água entrando pela boca. Sentir o vento forte que
dificulta ainda mais qualquer tentativa de enxergar um palmo além do rosto. É
uma não-visão espetacular. Uma cegueira alva, momentânea, empolgante – que se
une ao barulho quase ensurdecedor da água batendo na água. Uma sensação difícil
de descrever. Vento, água, som, tudo se mistura para desenhar a força
impressionante da natureza em contraposição à pequenez dos passageiros do barco
(e do próprio barco, o famoso “Maid of the Mist”).
Em todo o caminho (e em todo
o lugar), vê-se o balé dos albatrozes indo e vindo entre uma queda de água e
outra, subindo e descendo do leito do rio acima para o leito do rio abaixo,
asas abertas em sinal de liberdade, voo acelerado em sinal de respeito,
mergulho na névoa em sinal de enfrentamento, nado sincronizado em sinal de
alegria. Aves para todo lado naquela água agitada, gelada e provavelmente
fértil.
As cataratas vistas assim tão
de perto parecem a boca de um vulcão. Ao invés de fogo, água; ao invés de
calor, frio; ao invés de vermelho, verde. Um vulcão às avessas. Eis, pois, que
uma erupção de emoções invade a alma. Passo minutos silenciosos contemplando a
paisagem em pontos distintos. De cada ângulo, a mesma força impressionante se
revela e se impõe, impressionantemente, num movimento contínuo. Sim, é preciso
ser um pouco redundante para transmitir a magnitude da paisagem.
Não é de baixo nem no nível
da água, porém, que o visitante irá compreender a geografia do lugar. Para
isso, é preciso ir às alturas. Recorra, então, à torre construída ali ao lado
para servir de mirante. Dela, a 775
pés (ou 236 metros ), é possível ver como as cataratas
se formam e porque são divididas em duas grandes quedas. É possível enxergar,
distante, a região de Niagara no Canadá e, logo ali do outro lado, nos Estados
Unidos.
A vista é magnífica. E a
percepção, confusa. De perto, Niagara parece menor do que se vê pela TV; de
cima, parece grande; de dentro, é gigantesca. É incrível constatar como ela se
transforma dependendo do local de observação e, ao mesmo tempo, como mantém sua
beleza, sua força e sua grandeza (não necessariamente no sentido geográfico,
embora seja efetivamente grande).
Seja como for, e de onde se
olhe, as cataratas do Niagara são um verdadeiro espetáculo. Um presente da
natureza – belo e surpreendente.