L.A., um sonho californiano

Talvez em nenhum outro lugar do mundo um turista experimente tanto a sensação de estar literalmente num cenário de filme quanto em Los Angeles. Não que a cidade esteja tão na dianteira das locações cinematográficas históricas (Nova York não fica para trás, por exemplo), mas não resta dúvida de que o clima na segunda maior cidade norte-americana, a maior da costa do Pacífico, ajuda a reforçar a tal sensação. E não é à toa. Los Angeles é a capital mundial do cinema, é a sede dos grandes estúdios dos EUA.Uma série de fatores, históricos e geográficos, fez de L.A. uma cidade marcada pela diversidade. Sua própria topografia indica isso, já que é na verdade um conjunto de bairros ou cidades, formando um condado. Lá, latinos, chineses, japoneses, italianos e, claro, norte-americanos se misturam como em poucos lugares (talvez Nova York e São Paulo...).É difícil imaginar alguém que nunca tenha ouvido falar em Hollywood, Beverly Hills (e suas patricinhas), Melrose ou Santa Monica (assim, sem acento). As séries americanas exploraram - e exploram - à exaustão esses cenários.Por ser a meca do cinema (ou seja, a casa de astros e estrelas), L.A. se tornou uma cidade relativamente cara. Por ter uma topografia tão dispersa, a locomoção tende a ser mais difícil (o trânsito é intenso em suas ruas, avenidas e highways). Estes obstáculos, porém, estão longe de ser impeditivos aos turistas. Ao contrário, os atraem. Los Angeles, o luxo e o lixo convivem em certa harmonia.

No Brasil, L.A. – ou mais precisamente a Califórnia – foi muito cantada como a terra do lazer e do prazer. “A place to have fun”. “Garota eu vou pra Califórnia, viver a vida sobre as ondas...”. O sonho californiano, porém, exige esforços (são muitos os brasileiros vivendo na região, trabalhando duro para ganhar os dólares cada vez mais desvalorizados). A cidade está em crise, o Estado está falido (o rombo é tão grande que o governador Arnold Schwarzenegger - sim, o “exterminador do futuro”, aquele mesmo do “Hasta la vista, baby!” - colocou à venda várias prédios públicos, como um estádio e uma cadeia, para tentar minimizar o problema).Problemas financeiros à parte, o certo é que L.A. merece uma visita. Por mais que muitos de seus pontos turísticos mais se pareçam com cenários (a tal Calçada da Fama é coisa para inglês ver), a cidade vai muito além do cinema - embora, não tem jeito, respire cinema. Por isso, uma vez em Los Angeles, vá a todos os lugares que todos os turistas devem ir (a Calçada da Fama, o Teatro Chinês, o Kodak Theatre, a Rodeo Drive, a Hollywood Boulevard, etc). E não se esqueça de que muito além desses lugares, há uma cidade viva (não cenográfica) esperando por você.

PS: para mais informações sobre L.A., clique aqui.

Histórias além dos jardins

Sempre que visito um lugar, gosto de saber algo previamente a respeito dele. Isso me reforça o sentimento de “pertencimento” ao qual me referi no “Bate-Bola”, meu blog de generalidades (leia aqui). Nem sempre, porém, é possível saber tudo sobre os lugares onde estaremos - aliás, a surpresa é um belo ingrediente nas viagens. Foi assim na Abadia de Westminster, em Londres, e no Washington Square Park, em Nova York.
Confesso que só há 15 dias descobri que aquele belo lugar em Greenwich Village, onde estive em setembro de 2007, chamava-se Washington Square Park. Assim que o vi numa reportagem da TV, logo o identifiquei pelo arco, que lembra o do Triunfo, de Paris. E sequer imaginava que aquele lugar marcado pelo verde e pela descontração juvenil (com um certo ar de Woodstock) tinha tanta história para contar.

O tal parque é apenas um dos 1,7 mil parques públicos de NY. Um dos mais conhecidos, é verdade, mas ainda assim um entre centenas. São quase 40 mil metros quadrados de muito verde e muita atividade - em grande medida porque parte da área está ligada à Universidade de Nova York (isso se deu, claro, após muita discussão com a vizinhança, que não admitia perder aquele belo espaço).
O Washington Square Park tem suas origens nos anos 1600. A área pertencia a uma vila próxima, conhecida como Sapokanikan, até que holandeses atacaram o lugar e passaram a usá-lo como terras agrícolas. Em meados do século 17, visando proteger a área de possíveis ataques de nativos americanos, os holandeses deram as terras para os escravos - agora libertos - cuidarem (eles tinham que pagar uma espécie de taxa sobre os lucros à Companhia Holandesa das Índias Orientais). Hoje, essa área - que já foi chamada de “A Terra dos Negros” - é o Washington Square Park.
O local serviu como terras agrícolas até abril de 1797, quando foi incorporado pelo Common Council de NY, passando a funcionar como cemitério público - geralmente para enterrar pessoas desconhecidas ou indigentes. Quando a cidade de NY (que ainda não incluía a área do Washington Square Park) foi atingida por uma epidemia de febre amarela no início dos anos 1800, muitos dos que morreram em razão da doença foram sepultados no local, deixando a zona urbana segura. O cemitério foi fechado em 1825. Os restos mortais de cerca de 20 mil pessoas ainda repousam naquela área.
O grande arco existente no local foi erguido em 1889 provisoriamente e em 1892 de modo permanente como homenagem ao centenário da presidência de George Washington. Durante as escavações para fazer a base leste do arco, restos humanos, um caixão e uma lápide datada de 1803 foram descobertos três metros abaixo do nível do solo. A primeira fonte do parque foi concluída em 1852, sendo substituída em 1872. O monumento a Giuseppe Garibaldi é de 1888.
Já deu para perceber que o chão onde se pisa numa viagem guarda muito mais histórias do que um turista acidental pode imaginar...

PS: a primeira imagem é a reprodução do quadro "Washington Arch", de Childe Hassam (1893).

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