A história está contada numa
placa logo na entrada do vilarejo – que já foi conhecido como Butlersburg,
Newark e Niagara do Oeste desde que os primeiros moradores chegaram por volta
de 1780. Em maio de 1813, o lugar foi tomado por forças norte-americanas, que o
incendiaram durante a retirada em dezembro do mesmo ano.
Tão importante quanto a
história, porém, é constatar que Niagara-on-the-lake conseguiu preservar sua
identidade ao longo dos anos. Hoje, a cidade que se conhece não é muito
diferente daquela que se via um século atrás. Um lugar romântico como poucos,
encantador, de clima agradável, beleza arquitetônica singular, jardins
coloridos e muito bem cuidados – como de resto tudo por ali.
O melhor a fazer na cidade é
caminhar despreocupadamente. Você passará por lojinhas de artesanato e de
guloseimas típicas, que misturam a beleza da arquitetura com um charme próprio
(e cada uma tem o seu para exibir). Quer um exemplo? A farmácia logo na entrada
da cidade. O local preserva o mobiliário e os utensílios do início do século
passado, uma verdadeira pérola que ajuda a contar a história do comércio e da
sociedade locais. A fachada branca com arcos sobre a porta e as duas vitrines e uma estranha luminária dourada no alto é tão encantadora que sequer parece uma farmácia.
E assim
ocorre com muitos outros estabelecimentos ao longo da via principal, a Queen
Street. Aliás, a minúscula cidade
concentra seus atrativos no quadrilátero englobado pelas ruas Queen, King, Mary
e Mississauga. Ao caminhar pela área, repare na presença da natureza. Pequenos
jardins e áreas verdes - onde é possível ver senhores e senhoras “jogando
conversa fora” – formam com a arquitetura do lugar um conjunto harmonioso
raramente visto nas cidades atualmente. Acrescente a este cenário charmosas
charretes de madeira pintada de branco decoradas com veludo e você terá a
certeza de que faz parte de um conto de fadas.
Até a parte residencial atrai
a atenção. Típicas casas de madeira, com cercas baixas também pintadas de
branco, dão a impressão de pequenos palacetes. Sem luxo aparente, é verdade,
mas rodeados de uma beleza incomum (por mais que às vezes existam apenas
árvores comuns ao redor). É o “conjunto da obra”, o clima (metaforicamente
falando) do lugar que confere à área um toque diferenciado.
Não deixe de olhar
detalhadamente para cada um dos canteiros floridos, seja em frente aos
estabelecimentos comerciais e casas ou ao longo das vias. Após o inverno,
quando o branco da neve predomina, tulipas e outras flores florescem e colorem
o lugarejo, renovando a vida e dando um tom quase impressionista a
Niagara-on-the-lake.
Quer uma dica? Sente-se num
dos bancos na calçada e gaste alguns minutos só observando a beleza e o
movimento ao redor – escasso, registre-se, e é aí que reside a diferença dessa
experiência. Tem-se a impressão de que ali o tempo passa mais lentamente, o que
faz com que nosso relógio biológico busque também trabalhar de modo mais tranquilo
– o que é positivo para quem vive a correria do conturbado mundo moderno.
Niagara-on-the-lake é
definitivamente especial, diferente de tudo o que você já deve ter visto em
termos de cidade. É uma daquelas típicas cidadezinhas do interior paulista, com
duas diferenças importantíssimas: sua história e sua preservação seculares. O
local é tão singular que não se pode entrar de ônibus – estes veículos são
obrigados a parar numa espécie de estacionamento público e as pessoas caminham
até o centro histórico. A caminhada, não seria preciso dizer, é deliciosa. São apenas
algumas centenas de metros numa via tranquila e arborizada, que serve de
aperitivo para o que virá (e o que se verá).
É inevitável desejar, ainda
que por um breve instante, morar naquele lugar. Se isto soa quase impossível e
você não reservou nenhuma noite em alguma pousada ou hotel, não deixe de
comprar uma guloseima, experimentar um café, um vinho ou seja lá o que for
caminhando de modo errante ou mesmo sentado a uma mesa apreciando a vista.
Tenha certeza: será uma experiência inesquecível. Ainda que a comida ou bebida
não tenha nada de especial, lembre-se que você está em Niagara-on-the-lake. A
partir daí, é só soltar a imaginação ou, se preferir, não pensar em nada,
apenas curtir o momento. “Carpe diem!”
Em tempo: a região de
Niagara-on-the-lake é conhecida pelas vinícolas. O produto de destaque é o
chamado “icewine”, vinho gelado numa tradução literal. Trata-se de um vinho
feito com uvas colhidas no ápice do inverno. Como elas ficam desidratadas, a
bebida é mais doce que as tradicionais. O gosto é bom, mas o preço um tanto
salgado.