Recentemente, ao abrir as páginas do jornal “Folha de S.
Paulo”, deparei-me com um relato do genial maestro João Carlos Martins a
respeito do último voo de Cuba para os Estados Unidos, em abril de 1961, antes
da relação entre os dois países azedar em razão da Guerra Fria. A história me
fez lembrar de uma reportagem lida na revista de bordo da Lufthansa – a “Lufthansa
Magazin” - durante um voo em 2014.
Era 9 de novembro e eu estava em solo alemão aguardando o
retorno para o Brasil após uma semana na Suécia. Confesso que não tinha me dado
conta da importância da data. Naquele dia, fazia exatamente 25 anos que caía o Muro de Berlim, talvez o símbolo mais eloquente da Guerra Fria naquele país e
da divisão de um povo (e, por que não?, do mundo).
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, a Alemanha teve seu
território dividido em zonas controladas pelas quatro nações vencedoras - EUA,
Inglaterra, França e União Soviética. As três primeiras acabaram unidas para
formar a Alemanha Ocidental. A parte soviética ficou isolada e se tornou a
Alemanha Oriental (DDR). Pelo Tratado de Potsdam, três corredores aéreos foram criados para ligar Berlim, na parte oriental, às três regiões ocidentais, mas a
principal companhia aérea alemã – a Lufthansa, fundada em janeiro de 1926 - não
podia fazer esses voos. Não podia sequer sobrevoar a DDR.
Essa história ganhou um novo capítulo 44 anos depois – contado na tal revista de bordo como comemoração pelos 25 anos da queda do Muro. Uma ampla reportagem (p. 72-80) recordou o primeiro voo programado da Lufthansa a tocar o solo da então Alemanha Oriental. O trajeto entre Frankfurt e Leipzig foi mais longo que o necessário: 717 quilômetros ao invés de 310, sobrevoando a República Tcheca até os arredores de Praga para evitar (até a aproximação final) cruzar o espaço aéreo oriental.
Essa história ganhou um novo capítulo 44 anos depois – contado na tal revista de bordo como comemoração pelos 25 anos da queda do Muro. Uma ampla reportagem (p. 72-80) recordou o primeiro voo programado da Lufthansa a tocar o solo da então Alemanha Oriental. O trajeto entre Frankfurt e Leipzig foi mais longo que o necessário: 717 quilômetros ao invés de 310, sobrevoando a República Tcheca até os arredores de Praga para evitar (até a aproximação final) cruzar o espaço aéreo oriental.
Naquele 10 de agosto de 1989, o comandante Jürgen Raps foi o
responsável por pilotar o Boeing 737 no voo LH 6010. A bordo, estavam o
presidente da companhia alemã e 50 jornalistas, além de tripulantes e outros
dois passageiros. Um pouso simbólico que entrou para a história. Foi, nas palavras
do comandante, o “primeiro furo no muro” – que seria derrubado três meses
depois.
Desde minha primeira visita à Alemanha, em 2005, sempre me
surpreendeu a forma como o país (instituições e sociedade) decidiu lidar com
suas feridas - e talvez nenhum outro povo tenha tido tantas, ou causado tantas,
no longo século 20. Isto pode ser visto em muitos lugares, pode ser sentido em
muitas conversas, pode ser vivido em muitas atrações.
Por razões óbvias, Berlim é cenário de grande parte delas.
Quando estive na cidade, em abril de 2013, havia na praça em frente à Ilha dos
Museus, bem ao lado da Catedral (a Berliner Dom), uma exposição que lembrava os
80 anos da ascensão ao poder dos nazistas, em 30 de janeiro de 1933. Bastante
sugestivo era o tema da mostra – “Diversidade Destruída”. Em totens, biografia
e fotos de 200 figuras que representavam a diversidade da sociedade naquela
época.
Os totens naquele lugar eram uma pequena parte de uma série
de exibições que ocorreram ao longo do ano, naquela que foi escolhida para ser
a mostra aberta do ano em Berlim.
Ao lado da catedral, fica um museu que tem ganhado destaque
nos últimos anos - o DDR Museum. Como o nome diz, trata-se de um lugar criado
para relembrar - por meio de objetos do cotidiano - como era a vida na antiga
Alemanha Oriental. Eu não o visitei (ficou para uma próxima!), mas já o vi em
reportagens de TV.
Uma outra forma interessante, e também na moda, de conhecer a
vida na antiga porção oriental da cidade é por um passeio de "trabi".
Este é o nome dos carrinhos (no sentido literal do termo) usados na área
comunista, naturalmente toscos e desprovidos de tecnologia.
Hoje, muitos modelos - de uma só cor ou multicoloridos -
trafegam pelas ruas livres de uma sociedade que respira e transpira democracia,
levando turistas para lá e para cá, vivendo uma aventura de forte simbolismo,
embora para muitos seja apenas mais um passeio diferente. Definitivamente não é!
É impossível dissociar o passeio nos "trabis" - talvez paradoxalmente
surgido como uma ideia capitalista, ou seja, um negócio - da carga histórica
intrínseca que eles carregam (ou representam).
Não por acaso, o “Trabi World” fica a poucos metros de um
dos pontos por onde passava o Muro, na Zimmerstrasse, que leva a um lugar –
hoje atração turística – sugestivamente chamado Topografia do Terror.