O Museu Alemão da Tecnologia

Li algum tempo atrás uma reportagem que tratava do abandono do patrimônio ferroviário brasileiro em um dos seus centros mais importantes: a vila de Paranapiacaba, em São Paulo. Mais recentemente, um retrato do mesmo abandono em cidades do interior paulista.
É triste ver que o Brasil não preserva a sua memória – e, consequentemente, a sua história. Em países desenvolvidos, como na Europa, não é assim. Em Berlim, na Alemanha, por exemplo, existe um museu que traça um interessante retrato do desenvolvimento tecnológico humano. É o Museu Alemão da Tecnologia (Deutsches Technikmuseum). Por meio de exemplares de diversas invenções, das mais simples às mais complexas, ele mostra como o ser humano usou o conhecimento para tornar a vida mais confortável e fácil ao longo dos séculos.


Para quem gosta de meios de locomoção, sejam bicicletas, trens, carros, barcos ou aviões, o museu é um prato cheio. Seu acervo é tão grande que as poucas horas que reservei para conhecê-lo não foram suficientes para ver tudo com a tranquilidade necessária.
Logo na entrada é possível apreciar antigas bicicletas, feitas em madeira. Compará-las aos modelos esportivos existentes hoje chega a despertar risos. Desde os primórdios, porém, o princípio é o mesmo: uma peça que liga duas rodas e é movida pela força de quem é transportado. Tem desde aqueles modelos em que uma roda era bem grande e a outra pequenina até os mais semelhantes aos atuais.




  
Uma das áreas mais interessantes é a dos trens. Enquanto no Brasil antigas e históricas composições apodrecem deixadas ao sabor dos ventos, lá locomotivas e vagões estão expostos e podem ser visitados por dentro, por fora e até por baixo – basta descer alguns degraus até o corredor aberto no chão, como os que existem naquela área dos postos de combustível onde os veículos são erguidos. Há mais de uma dezena de trens, de todos os tempos e tipos.







  
Aliás, a localização do museu ajuda a contar esta parte da história, já que ele fica na área onde existia uma antiga estação de trem de carga, na junção das estradas de ferro. O local abrigava ainda dois depósitos e uma fábrica.
Aviões comerciais e de guerra também estão no museu, ajudando a contar não só parte da história da aviação como também da humanidade. É só olhar os bombardeiros nazistas usados na Segunda Guerra Mundial, na qual a Alemanha foi derrotada pelas forças Aliadas, lideradas por Estados Unidos, Inglaterra e França.










Há ainda um setor todo dedicado a embarcações de vários tamanhos. Além do transporte, o museu mostra a evolução das tecnologias de comunicação, produção (como a área de ferramentaria) e energia. Enfim, um mundo vasto de peças e de conhecimento que certamente vai agradar crianças e adultos.
Embora tenha vários painéis interativos, o Deutsches Technikmuseum chama a atenção mesmo pelo seu acervo – o que é um grande mérito, já que normalmente antiguidades costumam ser descartadas como velharias (até porque, como mostra a Alemanha, as velharias poderiam estar atraindo visitantes, gerando renda e principalmente ensinando as novas gerações).
Inaugurado em 1983, o museu – com 26 mil metros quadrados – é um dos maiores da Europa no gênero. Mesmo assim, costuma passar ao largo dos roteiros por Berlim, mas vale a visita. Eu mesmo só o descobri por acaso. Claro, ele não está na lista das principais atrações berlinenses (ainda mais num lugar que protagonizou a história do Ocidente na última metade do século 20), mas qualquer visita à cidade superior a dois dias pode ter nesse lugar um bom atrativo.

A Suécia está de olho no Brasil

Quase dez milhões de habitantes, 12º maior Índice de Desenvolvimento Humano do planeta, uma terra de belezas naturais e arquitetura clássica banhada pelas águas escuras do mar Báltico e do mar do Norte. Situada na região mais desenvolvida do mundo, a península escandinava, a Suécia está de olho no Brasil.



 


Nos últimos anos, novas empresas suecas desembarcaram no país, atraídas principalmente pelo tamanho e o potencial do mercado consumidor brasileiro.  Na bagagem, trouxeram novas tecnologias.

Uma dessas empresas fica num prédio no centro de Estocolmo. Fundada em 2010, a iZettle desenvolve equipamentos para pagamento com cartão via celular e tablet. É só acoplar o equipamento no aparelho, abrir na tela o menu de produtos ou serviços, clicar no item escolhido e pronto. Em menos de trinta segundos a venda é feita. O recibo vai por e-mail. O aplicativo para as maquininhas é fornecido de graça. E funciona com as principais bandeiras de cartão de crédito e débito.
O diretor Johan Bendz conta que a empresa surgiu após um problema familiar. A esposa de um dos fundadores vendia óculos de sol em feiras pelo país e estava perdendo negócios por não aceitar cartões. Foi aí que o marido pensou num jeito de resolver o problema.
Hoje, a iZettle atua em nove países. No brasil, chegou em agosto de 2013 e já tem 40% do mercado. "Celebramos um ano no brasil e atingimos cem mil usuários", conta Johan. Ele não revela o faturamento, mas admite que os planos são ambiciosos. O desafio é descobrir as formas de pagamento que o cliente vai querer no futuro. "Como trabalhamos com pequenas empresas e vendedores de porta em porta, queremos criar soluções para ajudá-los a crescer. Pequenos negócios são importantes para a economia global. Representam mais de 30% do pib e mais de 60% dos empregos", fala.
O equipamento da iZettle também ajuda projetos sociais. No Brasil, é usado por guias em favelas do Rio de Janeiro para receber gorjetas dos turistas. Na Suécia, para a venda de uma revista criada há vinte anos como fonte de renda para moradores de rua de Estocolmo. “Os vendedores chegavam e diziam: ‘as pessoas não carregam mais dinheiro. Vocês têm que fazer algo’. Tem sido um sucesso. As vendas pessoais cresceram, a maioria de 30 a 60%”, comenta Pia Stolt, diretora da revista "Situation Sthlm". “Se alguém tentar comprar um sanduíche no quiosque ao lado eles não aceitam cartão, mas o vendedor da ‘Situation’ aceita. Isto os faz crescer e as pessoas ficam muito impressionadas.”  
A iZettle é apenas uma das mais recentes empresas suecas a ganhar fama mundial. As canções que milhões de pessoas ouvem em todo o mundo representam lucro para a provedora do serviço de "streaming" de músicas.  Criada em 2008 e presente no Brasil desde maio de 2014, a Spotify já possui 40 milhões de usuários no mundo.
Novidades nesta área não são surpresa na Suécia. A capital Estocolmo abriga uma das principais concentrações de empresas de tecnologia no mundo. É o chamado cluster - que aqui representa também a ligação entre as universidades e o mercado de trabalho.
Em Kista, no subúrbio, são cerca de 350 empresas, principalmente do ramo de telecomunicações sem fio. Como a Ericsson. Em novembro, a empresa promoveu seu fórum anual de inovação e apresentou novidades como a próxima geração de tevês. Controlada pelo celular, ela identifica quem está no ambiente, oferece os programas preferidos e recomenda outros. Também indica, por exemplo, os filmes em que seu ator favorito aparece. Assistir a vários programas ao mesmo tempo não será apenas um desejo. E, como num passe de mágica, os comandos mudam da tela do televisor para a telinha do tablet. 









 


E não é só. Um novo sistema que parece um jogo de videogame é nova uma tecnologia que pode ajudar, por exemplo, o combate a desastres naturais. Um óculos especial permite controlar a distância, por meio de Internet 5G, um trator – o que evita que as pessoas precisem ficar no comando das máquinas para lidar com desastres como o de Fukushima, no Japão, ou em outros ao redor do mundo.

A Ericsson foi a primeira empresa sueca a investir no Brasil, em 1924. Hoje, são mais de 180 no país - dois terços estão no setor de serviços (37%) e na indústria (36%). Segundo pesquisa da Câmara de Comércio Suécia-Brasil, 87% das empresas pretendem aumentar os investimentos no país nos próximos 12 meses.
Nos últimos dois anos, o comércio bilateral somou US$ 4,9 bilhões. A balança comercial é amplamente favorável à Suécia. As exportações brasileiras, principalmente café e minérios, somaram US$ 928,8 milhões e o país importou US$ 3,972 bilhões de empresas suecas.

* Reportagem original escrita para o programa "Matéria de Capa" (TV Cultura, dom., 19h30)

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