Um passeio por Odaiba

Já escrevi aqui sobre as curiosidades da minha viagem ao Japão. Desta vez, quero falar especificamente de Daiba, ou Odaiba, a região onde fiquei hospedado em Tóquio. E por quê? Simplesmente porque ela sintetiza muito do espírito japonês e da geografia do país.
Quando lá estive, em 1999, o moderno bairro de Odaiba tinha cerca de 15 anos de existência. Novíssimo, portanto. Era a modernidade destoante numa nação de cultura e tradições milenares. Uma região nova numa cidade que se reconstruiu no pós-Segunda Guerra. Essa reconstrução buscou atender duas necessidades: a reforma em si e a busca de espaço.
Como se sabe, o Japão é uma pequena ilha (ou melhor, um arquipélago com 6.852 ilhas, sendo quatro principais). Ocupa uma área de 377.873 quilômetros quadrados e tem uma população de 127 milhões de pessoas – do que resulta uma densidade de 337 habitantes por quilômetro quadrado. Para se ter uma ideia do que isso representa, a densidade demográfica brasileira é de 22 habitantes por quilômetro quadrado.
Números apenas ajudam a reforçar o grande desafio japonês: para onde crescer? A este enorme desafio, somam-se outros: onde plantar? Onde despejar o lixo? Onde cuidar de rebanhos? Onde enterrar os mortos? Talvez tantos obstáculos para a vida cotidiana tenham feito do Japão um berço de soluções inovadoras, planejamento e tecnologia. Talvez tenham reforçado nesse povo tradicionalmente guerreiro o desejo de lutar e vencer.
É neste contexto que Odaiba se encaixa. O novo bairro de Tóquio, uma metrópole com cerca de 13 milhões de moradores, foi criado sobre o mar. Isto mesmo! O Japão teve que avançar sobre a água para criar espaços. Como fez isso? Usando lixo no aterramento como uma espécie de alicerce para criar pequenas ilhas. Eureka! Dois problemas resolvidos “numa cajadada só”, como diz o ditado.
Odaiba é, por si só, um invento. Uma lição num país que luta para sobreviver. Odaiba é, por si só, uma existência. A bem da verdade, a região já existia e foi remodelada em meados dos anos 1990. Ainda assim, é um exemplo. A reurbanização da área atraiu empresas de grande porte, como shoppings e hotéis. Arranha-céus foram erguidos, expondo uma arquitetura inovadora e futurista – como a torre da Fuji TV, toda vazada, com um grande círculo rompendo seus traços retilíneos. Toda a transformação custou mais de US$ 10 bilhões.



Do hotel, o Le Meridien Gran Pacific Daiba, é possível ver toda a imponência da baía de Tóquio, a que teve uma parte aterrada para dar origem ao bairro. Na rua, a limpeza chama a atenção, juntamente com a calçada de granito. Isto mesmo, granito! Um piso especial, amarelo e com bolinhas (hoje usado em alguns locais no Brasil), serve de indicação para deficientes visuais. Um exemplo de inclusão social!
A sinalização de trânsito também é exemplar, como quase tudo no Japão no que diz respeito à educação e cidadania.
A paisagem de Odaiba é limpa: não há fios de eletricidade ou telefonia. Todo o cabeamento é subterrâneo. No ar, o destaque é outro: o sistema de transporte, que se junta perfeitamente à modernidade da área. Trilhos suspensos, com os “monorails”, riscam a paisagem. As estações de metrô têm conexão com os prédios de modo que você pode sair do quarto do hotel e ir direto para o trem sem ter que passar pela rua. Tudo parece uma coisa só – e funciona!
“Os ‘monorails’ passam ao redor de várias atrações, destacando a vasta área coberta sobre estas ilhas. As construções são bem espaçadas e os estacionamentos – os maiores que já vi no Japão – parecem estar cheios. (...) O ‘monorail’ faz suas curvas, permitindo ver edifícios de múltiplos ângulos.” O relato, preciso, aparece num blog de um turista norte-americano, mas bem podia ser meu. Era exatamente a imagem que se apresentava a partir da janela do quarto 1.232 do Gran Pacific.
Segundo um guia turístico do Japão, Odaiba é um bairro popular de compras e entretenimento construído  numa ilha artificial na baía de Tóquio. Talvez fosse mais simples dizer que Odaiba é “simplesmente um luxo!” (parafraseando um conhecido apresentador de TV brasileiro).
Em tempo: por luxo, neste caso, entenda-se um projeto bem sucedido sob todos os aspectos. Um conceito que ultrapassa a mera definição financeira que uma leitura superficial pode dar a entender.





PS: o exemplo de reaproveitamento bem-sucedido do lixo em Odaiba foi alvo de uma reportagem do jornalista Roberto Kovalick, correspondente da TV Globo no Japão. Ela foi veiculada em abril de 2010 no “Bom Dia Brasil” e pode ser lida aqui.

* Como não tenho fotos da área, captei imagens diversas na Internet, como no site do Le Meridien Gran Pacific Daiba e no Wikitravel, e também no Google Street View.
  
* O blog do turista norte-americano David Ing, citado nesta postagem, pode ser acessado aqui. 

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