Ratos na Europa

"Bichos, saiam dos lixos. (...) Ratos, entrem nos sapatos. Do cidadão civilizado."

Quando a gente viaja, deve estar preparado para enfrentar uma série de imprevistos e surpresas, pequenas ou grandes. Para isso, é importante - como já salientei aqui - fazer um planejamento, além de possuir espírito de turista (ou seja, diante de um imprevisto, adotar as medidas que devem ser adotadas e seguir em frente).
Muitos desses imprevistos tornam-se até engraçados. Quem imaginaria, por exemplo, deparar-se com ratos em alguns cantos da Europa? Pois foi o que aconteceu comigo e com um amigo em abril deste ano. Tudo começou em Lisboa, nossa primeira parada. Acabávamos de cruzar uma passarela de acesso à região da Torre de Belém quando deparamo-nos com o sujeito lá, esticado. Estava morto, é verdade; ainda assim foi um tanto repugnante ver aquele rato ali.
Por puro preconceito, expressamos um injusto "tinha que ser em Portugal". O destino (ou melhor, o roteiro) se encarregaria de provar aquela injustiça com nossos patrícios. Estávamos voltando para o hotel em Bruxelas quando, na calçada, estava lá outro sujeito, bem grande, também esticado, inerte. Outro rato morto! Na Bélgica...
Amsterdã, porém, é que nos reservava a maior surpresa. Era fim da tarde de domingo e estávamos numa área repleta de bares - que, naquela altura, já se mostravam esvaziados (descobrimos depois que as pessoas vão embora após os jogos, que acabam entre 18h e 19h). Olhávamos em volta e simplesmente não conseguíamos imaginar um lugar para tomar uma cerveja e comer algo. Depois de muita indecisão, optamos pelo que parecia ser o barzinho mais "arrumadinho". Ele carregava a marca de uma famosa cerveja.
Entramos, pedimos a bebida e dois lanches. Eis que, quando começamos a comer, o amigo que me acompanhava disparou: "olha, tem um rato ali!". Obviamente não acreditei. Não que tivesse duvidado das palavras dele (o Cristiano não tem o costume de mentir). É que eu simplesmente não conseguia conceber a idéia de ter um rato andando num restaurante em Amsterdã. Continuei comendo meu lanche "hot" quando, de repente, um rato passou perto da mesa. Era pequeno, tipo camundongo, mas era um rato. E desta vez vivo! Começamos a rir. Não conseguíamos ter outra reação diante da situação surreal: jantando num bar em Amsterdã com um rato andando para lá e para cá.
Foi aí que começamos a reparar na sujeira. O chão era antigo, tinha um assoalho de madeira. Na parede, havia uma entrada no rodapé que permitia ao rato esconder-se tranqüilamente e sair a cada pedaço de comida que caía ao chão. Meu amigo ficou exaltado. "Me dá a máquina fotográfica!", pediu. E disparou a bater fotos do tal rodapé na torcida para que rato aparecesse.
Minutos depois, lá estava ele, o rato, cruzando novamente aquele assoalho. Na mesa ao lado, quatro mulheres - já alertadas pela nossa agitação - perguntaram: "Is it a mouse?". Na hora, confesso que pensei: "meu Deus, vamos responder que sim e vai ser uma gritaria aqui...". Que nada. Confirmamos que era um rato e até brinquei: "Yes, it's a mouse. May be it's Mickey Mouse". E elas simplesmente seguiram comendo. Como nós.
O mais surreal, porém, ainda estava por vir. Eis que um garçom passou ao nosso lado e meu amigo não hesitou em abordá-lo: "Mr., there is a mouse here". O garçom parou, olhou, esboçou um sorriso e respondeu com toda tranqüilidade: "A mouse? No. There is a lot of mouses here..." Simplesmente inacreditável. Após um breve silêncio, pasmos ante aquela afirmação, rimos e decidimos acabar de comer nossos lanches (no meu caso até quando a pimenta permitiu). Claro, com a companhia de nosso amigo rato, que insistia em aparecer de vez em quando.

"Bichos escrotos, saiam dos esgotos, venham enfeitar meu lar, meu jantar, meu nobre paladar".

Em tempo: para quem ficou curioso, não, não conseguimos fotografar o rato. O máximo que flagramos foi o chão.

A conquista dos espaços públicos



Uma das situações que mais me chamam a atenção sempre que viajo é a utilização do espaço público, a forma como a comunidade lida com o coletivo. Pode parecer besteira, mas este detalhe é revelador do grau de educação e cidadania de um determinado povo. Para um brasileiro, este detalhe é ainda mais interessante porque permite que confrontemos a realidade exterior com a nossa - marcada via de regra pela pouca valorização do espaço público.
Um aspecto que chama minha atenção é o valor que se dá a um gramado. Isto mesmo! No Brasil, temos a mania de querer enfeitar tudo para que um determinado espaço tenha valor. Pois em vários países basta um gramado, um amplo e verdejante gramado, para que nele se instale a vida. São famílias fazendo piquenique, jovens e adultos lendo solitariamente ou ouvindo música (ou as duas coisas ao mesmo tempo), pais brincando com seus filhos, enfim, vida. Não são necessárias grandes estruturas, nada. Só um gramado. E, claro, a plena noção de que se trata de um espaço público, de convívio público. Este é o segredo.
Sei que parece pouco, mas não é. Só quem vivencia esta experiência sabe do que estou falando. Grandes gramados, grandes espaços públicos, valorizam as cidades, dão um ar de liberdade, incentivam a cidadania, a vida coletiva. Grandes parques em grandes capitais, como o Hyde Park, em Londres, são essencialmente extensos gramados (claro que há monumentos, estou falando da terra da rainha, mas ainda assim o que prevalece é o aparente vazio de um manto verde).
No Brasil, algo semelhante ocorre com as praias, mas essa comparação fica comprometida por se restringir às cidades litorâneas. As cidades brasileiras precisam de muito mais "Ibirapueras". De início, a ocupação dos espaços pode até ser pouca e a falta de cuidado prevalecer, mas é preciso dar o primeiro passo. É preciso educar a sociedade a valorizar os espaços de convívio público. Para isso, antes de mais nada, é preciso que nos enxerguemos como comunidade. É preciso que saibamos respeitar o espaço alheio. É preciso derrubar os muros (veja nas mensagens desta postagem texto que trata dos muros que cercam a USP, em São Paulo).
Nossas cidades nunca serão definitivamente cidades enquanto os espaços públicos não tiverem valor. E para que tenham valor, não é preciso investir muito. Basta um gramado.
PS: na seqüência das fotos, grandes áreas verdes em Amsterdã (Holanda), Londres (Inglaterra) e Lisboa (Portugal).

O Canadá, por Paulo Silas

Esta postagem foi feita por Paulo Silas, um colega jornalista que esteve recentemente no Canadá. Acho que vale a pena compartilhá-la (com a devida autorização do autor, claro).

"O Canadá é um país maravilhoso. Como descrever um território em que a taxa de alfabetização é de 99%. Com 33 milhões de habitantes, o jornal pago de maior circulação tem uma tiragem diária de mais de 400 mil exemplares. Um número surpreendente e muito distante de ser atingido pelo Brasil, que conta com uma população de 189 milhões de pessoas, onde a 'Folha de S. Paulo', considerado o jornal brasileiro pago de maior circulação, possui uma tiragem diária de 310 mil exemplares. É admirável observar pessoas lendo jornais nos lugares mais atípicos – pelo menos para nós -, como McDonalds, Johnys Rockets, etc.
A região de Quebéc nos remete às vilas típicas da França. Uma bela cidade, com um povo amável. Já Toronto conta com uma pincelada do Reino Unido, principalmente na língua inglesa, onde Center vira Centre.
Também não há como não falar sobre a sensação de liberdade, que provavelmente está distante dos brasileiros. Não há valor que pague poder caminhar nas madrugadas geladas e seguras do Canadá. Niagara Falls, divisa dos Estados Unidos, também é fantástica. As cataratas são fantásticas e uma parada nas casas de vinagem da região torna-se obrigatória."

Doces lembrancinhas


Dizem que uma coleção, qualquer tipo de coleção, prende-nos ao passado. Faz sentido. Afinal, só é possível colecionar coisas que existiram, que têm alguma história, algum significado. Pois eu tenho fascínio por souvenir. E os coleciono. Tenho consciência de que me faz bem esta "prisão" ao passado, pois cada objeto traz à lembrança sempre uma viagem - ou seja, momentos agradáveis. Ou quando são presentes de amigos, trazem à lembrança pessoas queridas, que lembraram de mim ainda que em terras distantes.
Em casa, tenho um canto específico para colocar os souvenires (ou seriam souvenirs?). São três prateleiras no escritório, repletas de bugigangas. Muitas bugigangas, desde conchas de Porto Seguro até uma Torre Eiffel em miniatura ou um Smurf de Bruxelas. Sinto prazer em olhar para cada um daqueles objetos, alguns dos quais me custaram muito esforço para fazê-los chegar até onde estão, seja porque são grandes, seja porque são quebráveis e exigiram cuidado no transporte.
Não sei quem inventou o souvenir, popularmente chamado de lembrancinha. Pensando bem, o nome popular é mais adequado. Afinal, é isto mesmo que o objeto se propõe a ser, uma lembrancinha. De uma viagem própria ou de um amigo. Alguns têm uma ligação direta com o lugar de onde vieram. A Torre Eiffel em miniatura é um exemplo. Outros, contudo, nada dizem do lugar, mas nos fazem lembrar dele. É o caso da minha lambretinha vinda de Madrid.
São características do souvenir ter um preço acessível e ser encontrado aos montes (este, aliás, é um charme desses objetos). Claro que quando viajo sempre procuro algo diferente, e até resisti recentemente "àquilo que todo mundo tem", mas me entreguei a esta realidade. Pois é justamente a sensação de fazer parte de um determinado grupo, como o dos que foram para Paris e trouxeram uma Torre Eiffel em miniatura, uma das características dessas lembrancinhas.
Ainda não consegui mostrar minha coleção de lembrancinhas aos amigos. Por enquanto, este canto de bugigangas é só meu. Esta postagem ajudará a resolver em parte esta falha. Aos amigos, porém, convido-os para conhecer meus souvenires - e suas histórias, claro (cada um guarda uma história). E também os convido a me ajudar na tarefa de abarrotar este canto de coisas. Para isso, é só lembrar de mim em suas viagens!

Arte é vida!

Viajar é o combustível da minha vida. Um deles. Entre todas as coisas boas que uma viagem proporciona, o que mais me atrai é o conhecimento. Talvez não seja à toa que eu procure sempre qualquer fonte de informação - jornais locais, plaquinhas de peças em museus, folhetos, conversas, etc. O conhecimento, porém, não está só nessas situações mais formais. Está nas ruas, nos bares, nos supermercados, nos metrôs.
Um fato que cada vez mais chama minha atenção em minhas andanças é a presença da arte (principalmente nas grandes cidades) na vida cotidiana, muito além das paredes de um museu. Você anda pelas ruas em Nova York e se depara com uma série de obras de arte. Nas capitais européis, idem. Em São Paulo, idem. Vale qualquer tipo de manifestação artística, desde as mais "glamourosas" e tradicionais, como uma escultura de Joan Miró num jardim, até as mais bizarras e alternativas, como um grafite num muro qualquer (aliás, a chamada "street art" tem revelado muitos talentos e tem me chamado a atenção particularmente).
Em Madrid, uma instituição cujo nome não me recordo revitalizou uma área próxima aos grandes museus da cidade (Prado e Reina Sofia), transformando-a numa imensa obra de arte. É na verdade uma composição de vários objetos artísticos, na qual nem as paredes escapam (foram revestidas de plantas, chapas de aço e cores). Ficou interessante (eu vi e atesto).


Na Alemanha, pedras foram colocadas na rua para reproduzir uma das obras do pintor de arte abstrata Wassily Kandinsky na Praça da Bavária (eu não vi pessoalmente, mas a foto indica que o resultado foi também interessante).

Mais do que obras de arte, ou manifestações de arte, estes exemplos revelam algo maior: a vida nas cidades. Uma cidade não é só formada de casas e ruas; é, antes e acima de tudo, formada de gente e suas manifestações. E é esse conjunto que confere vida a uma localidade. Portanto, viajar é muito mais do que conhecer um lugar; é conhecer uma determinada sociedade e seu modo de vida. E é por isso que eu adoro viajar!

Zurique, um paraíso

Alguns lugares nos reservam sensações especiais. Quis o destino que meu primeiro passo em solo europeu fosse dado em Zurique, na Suíça. Confesso que nutria muita expectativa em relação àquela viagem, muito mais por ser minha primeira experiência na Europa após anos sonhando com isso do que propriamente pela cidade. Pois me recordo como se fosse hoje de cada detalhe de Zurique, uma das cidades mais mágicas que já conheci.
A Suíça começou estranha para mim. Tão logo desci no aeroporto já fui preparando toda aquela papelada tradicional da alfândega. Passa uma porta, passa outra, passa um guichê, passa outro e nada. Quando vimos (havia mais dois amigos comigo) estávamos na rua. "Ninguém vai pedir meu passaporte?", falei. Entramos no táxi, um belo carro. Curiosamente, o motorista conhecia o Brasil. Perguntou sobre o país, falou do país e de Paulo Maluf. Disse que os suíços não tinham nada a ver com o fato do dinheiro brasileiro ser depositado lá. Eu ouvia e olhava pela janela. As ruas eram um tanto movimentadas e a cidade me pareceu um pouco fragmentada.
Foi na primeira caminhada, porém, que a cidade se revelou. Zurique é simplesmente maravilhosa. Caminhar pela Limmatquai, nas margens do Rio Limmat, observar aquelas construções que parecem medievais, as torres das igrejas, os relógios, tudo era muito mais do que eu sonhava. Havia, porém, um ingrediente essencial naquela paisagem: o clima. No sentido literal - um friozinho perfeito. E no sentido literário.
Zurique é uma babel (a ponto dos próprios suíços terem dificuldade de descrever a língua que falam). Zurique é o símbolo da educação (como em nenhum outro lugar os carros - todos - efetivamente param para os pedestres a ponto de um jovem descer uma ladeira de bicicleta e cruzar uma das principais vias sem se preocupar com o trânsito). Zurique é símbolo do ordenamento (a ponto de me hospedar em pleno centro e sequer ouvir barulho de carros ou buzinas ou ter uma grande obra embaixo de sua janela e não ouvir ruídos). Zurique é o símbolo da eficiência (a ponto do carro do lixeiro - e do próprio lixeiro - mais parecer uma ambulância tamanha a limpeza, sem contar os lixos todos organizados nas ruas, em saquinhos específicos para isso).
Zurique tem bondes, de onde se entra e sai sem que ninguém o perturbe porque obviamente todos compraram os tíquetes nas maquininhas espalhadas pelas ruas (a educação é levada a tamanho grau naquele lugar que um morador assim resumiu a lei: "o país confia no cidadão e, enquanto você não der motivo, seguirá confiando; quando você falhar, porém, pagará caro"). Zurique (seus arredores, na verdade) tem vacas leiteiras como eu nunca tinha visto na vida (e, sim, elas produzem o leite mais delicioso que já experimentei). Zurique ferve à noite como qualquer grande cidade européia (e põe ferveção nisso!). Zurique é cara como as mais caras capitais européias (e você paga em francos suíços, de lindas cédulas). Zurique mistura o antigo e o moderno sem que um agrida o outro.
Sim, Zurique vale a pena. Eu logo estarei lá novamente!

Em tempo: nós, brasileiros, acostumados à selva em que se transformaram nossas cidades, dificilmente nos acostumamos com a educação suíça. Assim, não foi difícil deixar a diretora de um museu que nos recepcionou falando sozinha porque, ao cruzar uma rua, ela seguiu caminhando despreocupadamente (afinal, os carros sempre param para os pedestres) enquanto nós, o trio brasileiro, ficamos na calçada parados como idiotas esperando o carro - também parado - passar.

PS: e fui embora sem ganhar um carimbo suíço em meu passaporte...

Olha o passarinho!

Se por um lado as máquinas digitais surgiram para agilizar a vida dos turistas, que podem conferir de imediato se suas fotos ficaram boas ou não, escolher as que serão reveladas, melhorar a qualidade das imagens, etc, por outro representam uma nova dificuldade paras aquelas pessoas pouco habituadas à tecnologia. O resultado, nestes casos, pode ser desastroso. Ou engraçado. É o que se vê no vídeo (que minha mãe e suas amigas não vejam...).

Supermercados, um prazer

Viajar, para mim, é muito mais do que diversão. É muito mais do que conhecer pontos turísticos, lugares. É conhecer culturas, modos de vida. Para isso, uma série de itens entra no meu roteiro, como caminhar muito, parar em muitas confeitarias, pubs ou seja lá o que for a característica do destino, ir a uma banca comprar um jornal (eles dizem muito de uma sociedade) e ir a um supermercado. Isto mesmo, sempre procuro entrar num supermercado quando viajo.
Houve quem se espantasse com essa mania até certo ponto extravagante. Supermercado? Seria desnecessário tentar explicar. Se há um local que resume uma cultura, seus gostos alimentares, sua economia, seu modo de vida, é o supermercado. Sem contar que, estando em outro país, inevitavelmente surgirão produtos inusitados, como o Roscón dos Reyes na Espanha (algo como o nosso panetone, só que em formato de rosca). Sim, na Espanha se come o roscón dos reyes...
É interessante notar, por exemplo, que muitas marcas são mundiais; é divertido tentar achar algo peculiar do Brasil (quem sabe a 51?); é interessante ver que o arroz só é vendido em pacotes pequenos porque não faz parte das refeições diárias; é surpreendente verificar a variedade de produtos, algo inimaginável nos mercados brasileiros; é enriquecedor conhecer novas frutas ou constatar que elas e os legumes são vendidos como se tivessem sido polidos tamanho o brilho.
Ah, sem contar que em alguns lugares os supermercados viram a meca da refeição barata!
Sim, os supermercados são reveladores e surpreendentes. Para quem se dispõe a conhecer a fundo uma comunidade, eles são prato cheio. Sem contar que divertem. Eu passo minutos (talvez horas) andando por entre as gôndolas prazerosamente, olhando preços, marcas, nomes, utilidades. Aprendendo.
Normalmente, sempre trago algo na bagagem. Isto, porém, é mero detalhe. O mais importante é o conhecimento adquirido. E como conhecimento deve ser compartilhado, eu costumo carregar na mala aqueles folhetos de propaganda. Pois eles permitirão dividir com os amigos um pouco do que aprendi.
Portanto, em sua próxima viagem, pense bem quando cruzar com um supermercado em seu caminho. Ainda que seja breve, uma passada por suas prateleiras pode ser uma boa experiência.

PS: o folheto que ilustra esta postagem é do Mini Mal, um hipermercado (o mini é só o nome) que me ensinou, me distraiu e me alimentou em Munique, na Alemanha.

Os encantos de Natal

Muitas pessoas podem perguntar porque as postagens internacionais predominam neste blog. A resposta é simples: porque têm sido as minhas viagens mais freqüentes. Sim, eu confesso, não conheço nada do Brasil para cima de Vitória (ES). Sim, eu não conheço o Nordeste. Sei que um dia vou conhecer, mas admito que a região não está na minha lista de prioridades. Não, não se trata de nenhuma frescura ou de falta de valorização do que é nosso. Ao contrário: sei que o Norte/Nordeste é maravilhoso. Tenho uma vontade particular de conhecer os Lençóis Maranhenses - provavelmente este seja o meu primeiro destino lá para cima.
Enquanto não incluo Fortaleza (CE), Natal (RN) e cia. nos meus planos de viagens, vou curtindo os relatos alheios. Minha mãe acabou de voltar de Natal. Ela já conhece Porto Seguro (BA), Fortaleza, Maceió (AL) e agora a capital do Rio Grande do Norte. Ou seja, muito mais do que eu. Ela adorou Fortaleza. Acho, à distância, que a capital cearense tem uma infra-estrutura melhor. Foi de Natal, porém, que ela trouxe as mais belas imagens - dela, registre-se (antes que algum fotógrafo profissional ou algum turista qualquer me critique).
As fotos de Natal não deixam dúvida: nosso litoral é abençoado por Deus e bonito por natureza! É difícil escrever sobre um lugar sem ter estado lá - para mim, viajar é essencialmente "sentir" os lugares. Arrisco-me, porém, a falar de Natal. Embora não a conheça, a cidade tem algo de mágico. Sim, eu sei o que é: é o fato de estar lá naquele cantinho do Brasil, bem no alto. Parece o ponto final (sim, há Fernando de Noronha mais à direita, mas já é fora do continente). Natal, portanto, parece ser um destino paradisíaco.
As dunas e as falésias natalinas são um encanto. O cajueiro gigante também - aliás, onde está aquele famoso menino? Minha mãe não o encontrou... O mar? Ah, o mar, aquele esverdeado que se mistura com o azul do céu num lado e com o escuro da areia em outro, produzindo um efeito visual mágico que faz das pessoas meros detalhes nas fotografias (que me perdoem minha mãe e todos aqueles que se acham o centro das fotos, mas a paisagem é deslumbrante).
Muitos poderão dizer que esta descrição cai bem para qualquer capital nordestina (e suas redondezas, porque a beleza mora mesmo longe dos centros urbanos). E é verdade, mas eu escolhi Natal. Escolhi Natal porque me encantei pelo canto da cidade, um canto ouvido à distância, trazido na mente e traduzido em sorrisos. Se é, pois, difícil escrever sobre a alma de um lugar que não se conhece, mais difícil ainda é sentir a alma de um lugar desconhecido. Pois eu consegui, quase como numa atividade mediúnica, sentir as cores, os cheiros, os ritmos e os sabores de Natal. Alguém duvida? Tente, então, entregar-se à imaginação e verá que é possível. Depois, é só arrumar as malas.

PS: Natal tem origem portuguesa, ligada à construção da Fortaleza dos Reis Magos em 6 de janeiro de 1598. Em 1633, a fortaleza foi ocupada pelos holandeses e a cidade virou Nova Amsterdã até 1654. Quer mais que uma cidade que mistura portugueses e holandeses em sua história?

Caminhar é preciso

Houve um presidente que disse certa vez que governar é construir estradas. Pois, para mim, viajar é construir pontes. Pontes imaginárias. Para tanto, caminhar é essencial. Os metrôs e ônibus são práticos e, muitas vezes, indispensáveis, mas não é possível conhecer um lugar a fundo, a sua alma, sem que se tenha caminhado.
Apenas a caminhada permite que se veja o cotidiano, que se sinta o clima, que se observe as feições, que se conheça as entranhas e os segredos de um lugar. Quem abre mão desse prazer está indiscutivelmente perdendo. Perdendo o que é, talvez, tão importante quanto qualquer ponto turístico: a alma de um lugar.
Em qualquer roteiro de viagem, uma caminhada é essencial. Daí ser um tanto estranhas aquelas viagens tipo foguetão, em que se desce do ônibus para ver um ponto turístico (quando se desce) e sobe-se novamente para ir ao próximo. Já participei desse tipo de viagem e posso dizer: é frustrante. Tem-se a mesma sensação de um cartão postal - ou seja, estive lá, mas é como se não tivesse estado.
Se navegar um dia foi preciso, caminhar é preciso. Subir e descer ladeiras, passear nos parques, cruzar ruas e avenidas... E não basta ser uma caminhada apressada. É preciso entregar-se a esta tarefa, permitir que a alma do lugar e a alma do turista tornem-se uma só. Pode parecer abstrato - e é. Como aprendemos na escola, abstrato é tudo aquilo que não podemos desenhar. Pois é impossível desenhar o sentimento captado numa caminhada. Ouvir sotaques, observar as roupas e os costumes, ver a limpeza ou a falta dela, sentir o ordenamento do trânsito ou a falta dele... Definitivamente, caminhar é preciso.
O mais interessante e importante disso tudo é que uma vez entregue à caminhada, facilmente o viajante chegará à conclusão de que nunca, nunca, uma mesma caminhada será igual à outra - ainda que se esteja passando pelo mesmo lugar. Eis a vida. A vida de uma cidade, que muda a cada instante. E com um pouco de sorte e determinação, a caminhada poderá levar a algum lugar agradável. Quem sabe a um ponto turístico ou a um barzinho.
Sim, você poderá ir à Torre Eiffel - e deve ir. Contará sua história e sua versão. Muitos, talvez, compartilhem de suas emoções. Ninguém, porém, há de caminhar como você. Sem uma caminhada, você poderá até ter conhecido a Torre Eiffel; só com uma caminhada, contudo, terá conhecido Paris.
E isto vale para Londres, Nova York, São Paulo, para sua cidade, seu bairro...

Souvenir 1

A Internet, para quem não pode ficar viajando para todos os cantos do mundo, tem se revelado um bom caminho para quem aprecia cultura, lugares, etc. Para quem é, enfim, um turista por natureza. Basta ser um turista virtual. Pois eu tenho descoberto algumas coisas interessantes. Tem um fotógrafo britânico que decidiu unir duas paixões de um turista: foto e souvenir.Michael Hughes faz fotos colocando souvenires no lugar de monumentos de verdade.
O resultado é muito interessante. Confesso que, como turista, sempre quis fazer aquelas coisas básicas, como simular que estou com a Torre Eiffel na mão (ou empurrando a Torre de Pisa, quando estiver na Itália), mas o inglês foi muito mais criativo - até por isso ganhou destaque e eu não.
Com esse trabalho, Hughes deu uma definição interessante sobre os souvenires - que dedico a um amigo que tirou tanto sarro do Manneken Pis (o menino mijão de Bruxelas) e acabou pegando para ele a estatuazinha do dito cujo. "Nada é sagrado no mundo dos souvenires e eles nos tocam mesmo sendo cafonas".

Em tempo: abaixo algumas criações de Hughes. Para quem tiver curiosidade, o acervo dele está disponível no Flickr: http://www.flickr.com/photos/michael_hughes/sets/346406.

Souvenir 2






Criações de Michael Hughes (de cima para baixo): Holanda, Atenas (Grécia), Egito, London Bridge (Londres, Inglaterra) e Torre Eiffel (Paris, França)

A Alemanha é linda


Normalmente minhas viagens são planejadas – ou melhor, sonhadas. Confesso, porém, que conhecer a Alemanha não fazia parte dos meus planos iniciais. O País, belo e organizado, não figurava no topo da minha lista de prioridades. Nunca imaginei que seria ela a minha entrada no continente europeu. Pois uma brincadeira de amigos me levou até a Alemanha em outubro de 2005. Talvez seja este o País que mais conheci, afinal foram 20 dias de Singen, na fronteira com a Suíça, até Bremerhaven, ao norte, descendo novamente até Munique, na Baviera. De carro.
A Alemanha é surpreende. Claro que ela não tem a fama de Paris e Londres, mas tem uma história tão rica quanto a desses lugares e pontos turísticos tão fascinantes quanto o de qualquer outro país europeu. Encontram-se castelos, por exemplo, por todo canto. Vêem-se cidades fenomenais (como Munique). Topa-se com o calor da Segunda Guerra – e do nazismo – em cada esquina (muitas vezes não fisicamente, mas na alma das pessoas e dos lugares). Sim, a guerra faz parte da vida da Europa e a Segunda Guerra ainda expõe suas cicatrizes (pois a geração que a viveu ainda está aí para contar suas histórias). As divisões ainda são visíveis (a parte oriental é muito diferente da ocidental, de quem esteve separada durante décadas).
A Alemanha tem carrões, que trafegam a 200 km/h nas suas belas auto-estradas (as autobahn); a Alemanha tem cervejas, muitas; tem spretzel; tem gente que acolhe os turistas, muitas; tem gente que os abomina simplesmente porque não falam alemão, e sim inglês. A Alemanha é organizada, politizada, tem belas igrejas (a Catedral de Colônia é fenomenal), belos metrôs, belas vilinhas (como Odenthal e Schwäbisch Hall), belos rios (o Reno é lindo). A Alemanha tem uma língua indecifrável, uma comida surpreendentemente boa (eu detesto a culinária tradicional alemã, mas a do dia-a-dia é interessante), tem uma completa falta de jogo de cintura que nos faz rir (nós, brasileiros, campeões do “jeitinho”). A Alemanha tem, é claro, belas alemãs, outras não tão belas assim (aquelas que se parecem com generais). Tem belas florestas, belos parques, um clima delicioso (para quem gosta de um certo frio), é moderna e antiga ao mesmo tempo.
Sim, se alguém me perguntar, responderia sem hesitação: vale a pena conhecer a Alemanha. Eu voltarei para lá, tenho certeza disso.

PS: esta postagem é uma homenagem ao Hans e sua esposa Christine; à dra. Lotte Köhller; ao dr. Albert Schimidt; à Renate Hahn; à Jussara e ao Joahnnes; e às “moças” de Möschied, Érika e Johanna, que quase me pediram em casamento.

NY, NY

Esquina do mundo (Start spreading the news), multifacetada (I'm leaving today), heterogênea (I want to be part of it), terra da liberdade (These vagabond shoes), metrópole (Are longing to stray), centro financeiro (Right through the very heart of it), cidade que nunca dorme (I wanna wake up in a city), nunca (That doesn't sleep)!
Coração da América (And find I'm king of the hill), terra das oportunidades (Top of the heap), onde se dita moda (These little town blues), onde jogam os Knicks (Are melting away), os Rangers (I'll make a brand new start of it, In old...), terra de Woody Allen (If I can make it there), de Sinatra (I'll make it anywhere)!
Cidade do MoMA (I want to wake up in a city), do Guggenhein (That never sleeps), da Little Brazil (And find I'm a number one), do Central Park (Top of the list), da Quinta Avenida (King of the hill), da Estátua da Liberdade (A number one), do Empire State (I'm gonna make), da Broadway e seus musicais (A brand new start of it, in old...)!
Terra estrangeira (And if I can make it there), minha e de todos (I'm gonna make it anywhere), da vida e da morte (It's up to you), a Big Apple (New York), que saudade de você (New York)!

PS: a música a seguir é, de fato, pouco original para retratar Nova York, mas ninguém ainda cantou melhor esta cidade.

Momentos únicos

Algumas situações na vida são simples, porém, de forte valor simbólico. Numa viagem, a possibilidade de que estas situações ocorram com maior freqüência é grande. Isso porque, em geral, você está indo para um destino com o qual sonhou em algum momento (ou por muitos momentos), onde irá realizar alguns sonhos (sejam pequenos ou grandes).
Nem sempre estes sonhos são programados - o que eleva a chance de que sejam momentos prazerosos, tamanha a reduzida expectativa que se guardava em relação a eles (sim, há uma relação direta entre expectativa e prazer ou frustração).
Para um viajante que quer mais do que simplesmente conhecer um lugar, o peso simbólico de uma situação pode conferir a ela um valor extra. É o caso, por exemplo, de um encontro com o Mickey para quem sempre sonhou com a magia de Walt Disney. Ou um anoitecer na Chapada Diamantina para quem curte a natureza. Trata-se de dar valor a momentos desprezados e ignorados por muitos. Esta questão passa também e necessariamente pelos gostos e referências pessoais. Assim, para muitas pessoas, caminhar pela Abbey Road - a rua imortalizada pelos Beatles - é simplesmente uma caminhada; para outras, é um momento mágico.
Não há, portanto, como qualificar o peso de cada situação, de cada lugar. É uma questão meramente individual. São momentos que, às vezes, duram segundos eternos (sim, os olhos têm uma curiosa capacidade de transportar imagens para a mente e o coração, eternizando-as). Algumas pessoas os definem como momentos únicos - resultados do cruzamento perfeito entre espaço e tempo.
Isso tudo pode parecer filosófico demais, abstrato demais, para um blog que pretende falar de viagens. Contudo, são estes momentos aparentemente abstratos que fazem toda a diferença numa viagem. Se você ainda não os experimentou, tente. Permita-se olhar de modo diferente para um lugar, arrisque-se a sentir um cheiro que ninguém mais sente, busque ver o que ninguém mais vê. Faça isso e terá como resultado um momento único.

PS: sentar na margem do Rio Sena foi um momento único, que tornou-se ainda mais prazeroso pelo acaso.

Um "maldito português"

Gosto muito de arte (não, não sou um expert no assunto, sou meramente um apreciador). Gosto muito de foto (não, não sou um expert no assunto, sou meramente alguém que gosta de ver e tirar fotos). Gosto muito de viajar (não, não sou um expert no assunto, sou meramente um turista casual). Quando tenho a oportunidade de unir todos estes gostos num só momento, sinto-me realizado.
Na minha última viagem, uma incursão por cidades européias, capturei belas imagens (modéstia à parte...). Meus esforços e minha insistência para conseguir os melhores ângulos movem meu espírito (ou será que meu espírito move meus esforços e minha insistência para conseguir os melhores ângulos?).
Talvez seja por isso que perder a máquina de fotos na viagem - e logo no segundo dia - me deixou desnorteado. Por mais que o amigo que me acompanhava disponibilizasse a máquina dele para todas as minhas maluquices (e ele fazia questão de me deixar à vontade para usá-la), tratava-se de uma questão pessoal, uma relação fraternal entre minha máquina e eu.
Domingo, em Lisboa, não seria possível procurar alguém para tentar arrumar minha câmera novinha, que fazia apenas sua segunda viagem. A saída seria comprar outra. E lá se foram quase 300 euros não programados para tal finalidade. Não importava; o essencial era estabelecer uma nova relação fraternal com aquela nova máquina.
Parece loucura, mas só quem é apreciador de fotos consegue entender. Assim como escritores admiravam suas Olivetti, fotógrafos também admiram suas máquinas (ainda que eu não passe de um fotógrafo amador).
A história da perda da minha máquina rapidamente atravessou o Atlântico. Numa tentativa de tentar livrar meus 300 euros, lembrei-me que meu pai havia comentado que queria uma máquina de fotos nova. Quem sabe ele não se dispusesse a pagar? Liguei para casa, fiz a consulta e... nada. Meu pai não fazia questão da máquina. Após o telefonema, a notícia se espalhou de tal modo a ponto de quase todo mundo saber, no meu retorno, da máquina perdida depois que um português deixou-a cair no Palácio de Queluz (que chique, minha máquina foi quebrada no chão de um palácio!).
Claro que, na hora, desejei muitas coisas ruins ao "português maldito". Depois, tentei me conformar. Em vão - o amigo que me acompanhava viu que seria impossível. "Pare de mexer nesta máquina, você vai piorar ainda mais a situação", dizia ele. Em vão - eu segui mexendo até que ela parou de vez. Para piorar, a máquina do meu amigo estava ficando sem bateria. Tudo isso acontecia no mesmo lugar onde eu estivera um ano e meio antes, quando fiquei sem bateria na máquina. "Não, não vou passar por aqui de novo sem fazer uma foto", pensava.
Essa situação, porém, ajudou a dar uma graça extra àquela tarde ensolarada de Lisboa. Ríamos muito a cada tentativa de fazer uma foto-relâmpago (sim, porque era ligar a máquina, correr e rezar para a bateria agüentar).

PS: o "maldito português" que derrubou - e quebrou - minha máquina está perdoado.

Em tempo: sem uma máquina, como poderia capturar a imagem na Catedral de Notre Dame (Paris) que abre esta postagem?

Os metrôs


Para um turista, o metrô foi uma das melhores invenções do século. Claro que caminhar pelas ruas ainda é a forma mais eficiente de conhecer e captar a alma de um lugar. Em grandes cidades, porém, não custa uma ajudinha para nos levar rapidamente de um ponto a outro.
Há tempos, porém, os metrôs deixaram de ser simplesmente um meio de locomoção. Sim, a função principal deles ainda é transportar milhares - em muitos casos milhões - de passageiros diariamente, geralmente pessoas tão apressadas quanto os próprios vagões. E foi justamente em razão dessa multidão que os metrôs acabaram ganhando funções secundárias. Viraram, por exemplo, espaços de arte.
Sempre que viajo, divirto-me nos metrôs. Eles revelam muito da alma de uma cidade, seja pela arquitetura, pela conservação (ou não), pela eficiência (quase sempre presente), pelos nomes das estações. Ah, os nomes das estações... Tenho algumas manias (seriam transtornos obsessivos compulsivos?) e uma delas é ficar lendo tudo o que me passa à frente. Portanto, as estações do metrô não escapariam à minha observação. Praticamente decorei as estações de Madri, onde andei por mais de um mês. Em Paris, minha mania de ficar lendo os nomes das estações de um lado a outro chegou a gerar um mal-estar com um amigo - em razão do silêncio momentâneo fruto da minha concentração nas estações, ele achou que eu estava chateado com algo.

***
Já não é novidade dizer que se tem algo eficiente em São Paulo é o metrô. Sim, o metrô paulistano não deixa nada a desejar aos demais (a não ser na extensão das linhas, ainda uma vergonha, dez vezes menor que as de Londres e Paris, por exemplo, mas isto é uma questão dos governos). Até no campo arquitetônico e artístico o metrô da Capital paulista se iguala aos demais.
Portanto, se você é um daqueles passageiros apressados que sequer observa o que se passa ao lado, comece a prestar mais atenção ao metrô. Você verá belas construções, manifestações artísticas (incluindo os cantores latinos - sim, eles estão por todo canto do mundo!), figuras excêntricas, gente indo e vindo... Se bobear, conseguirá até embarcar...

Em tempo: a bela estação cujas fotos externa e interna ilustram esta postagem fica em... São Paulo. É a do Ipiranga.

Santos da minha infância

Eu adoro Santos. Tenho com a cidade uma relação quase umbilical e inexplicável. Na verdade, nem tão inexplicável assim. Como toda família de classe média de 30 anos atrás, as férias em Santos eram o sonho de todo início de ano. Chegavam as férias e já sabia: iria para Santos, onde meus pais tinham um apartamento - não me lembro o número, mas sei que era no 7º andar do Edifício Planeta, perto da Avenida Conselheiro Nébias, no Boqueirão. Para mim, era o máximo.
Como toda criança, acordava já ansioso para ir à praia. Lembro-me bem que no Edifício Planeta, a janela social do 10º andar era mais baixa - e só lá eu conseguia enxergar a praia. Então, logo após o café, corria com meu irmão três andares acima para ver se já estava sol. Aquela imagem era mágica: prédios para todos os lados e aquele mar à frente. Não via a hora de descer.
Enquanto aguardava os preparativos familiares, meu irmão, eu, meus primos e amigos que nos acompanhavam gostávamos de brincar pelos corredores, ir ao 10º andar pela escada, subir e descer pelo elevador, usar o elevador da direita (meio capenga que dava medo!), subir e descer a escadaria principal do prédio, em formato de meia-lua, colocar o lixo prédio abaixo (lá ainda havia aquele sistema em que você solta os sacos por um duto e eles despencam até a garagem, fazendo barulho a cada pancada na lataria). Enfim, tudo era diversão.
A única coisa que me irritava era a falta de uma TV decente. Costumávamos levar uma TV preto e branco do meu irmão, pequena e que pegava poucos canais. Para ela funcionar, era preciso usar um transformador pesado, um monstro, que eu só via nas férias em Santos. Adorava o cheiro de apartamento fechado, curtia as idas a um supermercado próximo (cujo nome não me recordo), onde costumávamos almoçar ao menos uma vez (não me lembro bem porque, mas o fato é que o supermercado tinha um restaurante suspenso que eu adorava!).
À tarde, quando meus pais descansavam, nossa diversão era subir até o 10º andar e apertar a campainha de um apartamento cuja porta era diferente, chique. Diziam que era da irmã de um ator, cujo nome também não me recordo. Acho que não era. O fato, porém, de ser a única porta de madeira escura num prédio cheio de portas brancas chamava nossa atenção e representava um desafio. Que tolice, quanta inocência, apertar a campainha e descer correndo pela escada. Era o máximo de nossa molecagem...
Quatro anos mais velho do que eu, meu irmão adorava me pregar sustos. Entrávamos no elevador e logo ele dizia: "vou apertar o botão de parar o elevador". E ria. Eu ficava assustado, com medo. Tonto como qualquer irmão menor, eu sempre pegava o elevador com ele e ele sempre vinha com a mesma história... No fundo, aquilo tudo era uma diversão. Sentíamos uma liberdade diferente.
E era com meu irmão que eu freqüentava uma casa de jogos próxima. Meus pais controlavam nossa ida ao local por dois motivos: 1) consumia dinheiro; 2) não era um local tão apropriado, pensavam. Que nada! Eu adorava passar horas lá sentado naquela máquina que simula um carro. Enquanto meu irmão usava todo o dinheiro (eu jogava uma vez a cada dez jogadas dele...), eu ficava naquela ilusão de que o jogo de carrinho estava funcionando. Virava a direção, pisava no freio e a imagem era sempre a mesma, a de demonstração do jogo. Ainda assim me divertia e torcia para que ninguém chegasse para jogar de verdade (e ninguém chegava porque aquele era um jogo muito infantil...).
Ah, como eram boas as férias em Santos. Desde a chegada ao Edifício Planeta - quando o "seu" Zé, o zelador (que tinha uma bela filha, a Belinha), dizia para meu pai: "e aí, Limeira, como está?" - até o encontro com as pessoas mais velhas no elevador e nas ruas, quando sempre ouvíamos calorosos "bom dia!", tão ausentes na atualidade... Tenho saudade até do tradicional ritual antiqueimadura: após o banho, minha mãe passava algo parecido com álcool no nosso corpo e depois algo parecido com maizena para refrescar. Ficávamos todos por algum tempo sem poder encostar em nada, vermelhos de sol, brancos de maizena.
Sim, é inevitável ter boas recordações de Santos. Uma postagem apenas não seria suficiente para recordar de todas as boas histórias lá vividas. Aos poucos vou contando mais dessas aventuras, que ficaram guardadas na mente e no coração.

PS: Segundo o site oficial de Santos, a Avenida Conselheiro Nébias - uma das principais vias da cidade - é uma homenagem ao santista Joaquim Otávio Nébias, nascido em 1811, que foi juiz municipal (1834), deputado provincial (1835) e conselheiro imperial de dom Pedro 2º.

Uma cidade eletrizante

Las Vegas é eletrizante. Literalmente. Nunca havia estado num lugar onde não se pode encostar em nada, nem na pessoa ao seu lado, sem correr risco de levar um choque. A explicação para um leigo é simples: tamanha a quantidade de luminosos, etc, faz a cidade ficar eletrizada. Não sei se há alguma relação entre um fato e outro; o fato é que apenas algumas horas em Las Vegas foram suficientes para eu e o grupo que me acompanhava percebermos que apertar o botão do elevador, encostar em alguém acidentalmente numa caminhada ou dar um beijo podia significar... um choque. É muito curioso e inevitável: leva-se choque a todo momento.
Apesar disso (e isto é apenas um detalhe), Las Vegas é uma daquelas cidades inesquecíveis. Uma jóia no meio do deserto. Não tem nenhum grande museu, não tem nenhum monumento histórico, nada disso. Não é para isso, porém, que se vai a Las Vegas. Lá é a cidade do jogo, dos cassinos, dos grandes shows. Não é só isso. Vale a pena caminhar pela cidade e conhecer suas peculiaridades.
Principal atração de Las Vegas, os cassinos valem a viagem por si só: mais que um lugar, são uma sensação. Hospédesse em um e conheça todos os outros. Você verá senhoras endinheiradas chegando solitárias em seus carrões, caubóis de chapéu em carros não menos vistosos, jovens e senhoras andando de patins e biquínis para atender as pessoas nas salas de jogos, crupiês compenetrados, tentando derrotá-lo...

PS: ah, de preferência vá a Las Vegas de carro. Cruzar o deserto de Nevada, passar por cidadezinhas que parecem fantasmas é um show e parte. E, obviamente, não deixe de fazer suas apostas. Quem sabe, com um pouco de sorte, você não vira o milionário da noite?

Obs: a foto que ilustra esta postagem foi retirada do site
www.uol.com.br

Aos pés da Torre Eiffel

Ao postar este vídeo, lembrei-me de uma música conhecida no Brasil. Diz assim: "É bom passar uma tarde em Itapuã...". Pois deve ser mesmo bom passar uma tarde em Itapuã, assim como é bom passar uma tarde em Paris, andando errante, olhando famílias de todo o mundo se divertindo aos pés da Torre Eiffel. Ah, aos pés da Torre Eiffel...

PS: este vídeo foi feito apenas como teste. Nas próximas viagens, prometo vídeos melhores.

Um lugar chamado Notting Hill

She
May be the face I can't forget.
A trace of pleasure or regret
May be my treasure or the price I have to pay.
She may be the song that summer sings.
May be the chill that autumn brings.
May be a hundred different things
Within the measure of a day


Londres é encantadora. Como toda grande cidade, a capital da Inglaterra é uma mistura de um monte de pequenas "cidades". E uma dessas "cidades" eu sonhava conhecer. Quando um amigo e eu iniciamos um roteiro de viagem, eu sempre fazia referência ao lugar - que geralmente ficava em segundo plano, mas nunca era esquecido. Não sabia - como até agora não sei - porque exatamente queria ir até lá. Obviamente que a origem disso tudo é o cinema - não fosse assim talvez sequer conhecesse um lugar chamado Notting Hill.

She
May be the beauty or the beast.
May be the famine or the feast.
May turn each day into a heaven or a hell.
She may be the mirror of my dreams.
A smile reflected in a stream
She may not be what she may seem
Inside her shell


Notting Hill não é propriamente belo. Para quem assistiu ao filme, é exatamente o que se vê. Chega a ser um pouco cansativo tamanha a quantidade de pessoas se espremendo nas ruas. É um lugar onde há muitos imigrantes. Ainda assim, entrar numa espécie de cantina, pequenina, apertada, pedir uma pizza, comê-la em pé pela falta de espaço, é algo que só um turista de coração aberto pode apreciar.

She
who always seems so happy in a crowd.
Whose eyes can be so private and so proud
No one's allowed to see them when they cry.
She may be the love that cannot hope to last
May come to me from shadows of the past.
That I'll remember till the day I die

É, Notting Hill não é propriamente belo, mas tem um charme curioso. É até um tanto frenético numa cidade certinha (o que não significa dizer monótona, chata). O bairro tem lojinhas velhas e sujas, muitas daquelas que lembram nossas lojas de R$ 1,99, mas também tem espaços novos, interessantes. Foi uma pena não poder apreciar com mais tempo e mais calma as vitrines - tanto pela quantidade de pessoas como por uma chuva que fez questão de cair naquele momento.

She
May be the reason I survive
The why and wherefore I'm alive
The one I'll care for through the rough and ready years
Me I'll take her laughter and her tears
And make them all my souvenirs
For where she goes I've got to be
The meaning of my life is

Impossível foi andar por Notting Hill sem ficar cantarolando na mente a música principal do filme - que, por sinal, é encantadora. A música até que não combina muito com o aspecto do bairro, ainda que se encaixe no clima do lugar (se você se dispuser a mergulhar nesse clima). Não sei bem a razão, o fato é que gostei de lá. Na próxima parada em Londres, vou fazer questão de comer uma pizza num lugar apertado, tomar um café num lugar aquecido, olhar as lojinhas velhas e sujas com mais calma, enfim, passear por um lugar chamado Notting Hill...

She, she, she!

Os templos da arte moderna

Começou esta semana no Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo a exposição "Marcel Duchamp: Uma Obra que Não É uma Obra 'de Arte'". É a primeira vez que uma mostra dessa magnitude desse artista vem para a América Latina. São 120 peças, entre originais e réplicas. A exposição comemora os 60 anos do MAM.
Havia recentemente uma exposição de Duchamp na Tate Modern, em Londres. Era uma das mostras temporárias dentro do museu - o que significa dizer que pagava-se à parte por ela. Duchamp é um ícone do movimento que representa. O que numa época se considera arte moderna ou contemporânea, via de regra teve raiz numa tentativa de romper paradigmas, na ruptura. E toda ruptura é dolorosa. Com Duchamp não foi diferente. O artista enfrentou resistência - e o tempo encarregou de dar-lhe um lugar devido na história.
Mas não é exatamente sobre Duchamp que quero falar. A exposição em São Paulo apenas me remeteu ao prazer de visitar museus de arte moderna. São meus favoritos. Antes que alguém não compreenda (porque o ser humano é excludente, movido a binômios, sim ou não, preto ou branco, certo ou errado...), afirmar que gosto mais de museus de arte moderna não significa dizer que não goste de todos os demais. É impossível não se encantar pelo Louvre, pelo Museu do Imigrante, da Língua Portuguesa, de História Natural, enfim...
Os museus de arte moderna, porém, são divertidos. Coloridos, chocantes, desafiadores, malucos (sim, é preciso ter uma boa dose de loucura para imaginar - e entender - muitas das obras). Gosto de brincar entre as peças, colocar-me no meio delas, fazer fotos. Como são divertidos os museus de arte moderna!
Portanto, tendo a oportunidade, não deixe de ir ao MoMA, em Nova York; à Tate, em Londres, ao Centro George Pompidou, em Paris; ao MAM, em São Paulo. Você poderá até estranhar, mas não há como ficar indiferente.

PS: foi na Tate, em Londres, que vi a presença mais direta do Brasil em grandes museus internacionais de arte. Havia duas salas de artistas brasileiros. O mais conhecido deles é Hélio Oiticica (1937-80), pintor, escultor e artista plástico carioca (é dele a peça que ilustra esta postagem). Para mais informações, clique aqui.

Protestos pelo mundo

Não pretendia escrever outra postagem tão logo (costumo aguardar alguns dias para acrescentar novas postagens na esperança de que alguém deixe um comentário). No entanto, um fato se impôs ao meu planejamento. O resgate da franco-colombiana Ingrid Betancourt, que estava sob poder das Farc desde 2002, fez-me lembrar de algo que tem me acompanhado nas viagens: os protestos.
Em todas as minhas últimas viagens sempre me deparei com protestos. Em Hamburgo, na Alemanha, um grupo protestava em favor de imigrantes ilegais capturados na Espanha e devolvidos à África em condições degradantes. Em Nova York e Washington, manifestações contra a Guerra do Iraque ("Stop the War!") e uma mobilização a favor da guerra (na qual entramos, dois amigos e eu, por mera diversão e ignorância).
Em Lisboa, os protestos estavam nos muros. "Todo poder aos putos!", dizia uma pichação. Em Madrid, deparei-me com um protesto em favor dos "minusválidos" (os portadores de deficiência). Uma ampla manifestação em frente à sede da Comunidad de Madrid, na Puerta del Sol. Um amigo que lá morou por um ano e meio já havia me alertado: "aqui tem protesto todo dia". E uma espanhola que engatou uma conversa confirmou: "protestamos todos os dias, contra tudo".
E bastou pisar em Paris para me ver dentro de uma passeata estudantil quando me dirigia ao hotel. E não parou aí. Numa tarde, uma multidão em frente à Prefeitura de Paris chamou a atenção. Era apenas uma formatura de oficiais. Num canto, porém, flagrei um painel com uma foto de Ingrid e a contagem dos dias de duração de seu seqüestro. Contagem que agora, felizmente, chegou ao fim.

PS: Curiosamente, no mesmo dia da libertação de Ingrid, havia separado a foto desse painel em Paris relativo a ela. Coincidência...

Aeroportos, rostos e destinos

Todos os dias é um vai e vem

a vida se repete na estação
Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai pra nunca mais
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai e quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar

E assim chegar e partir
São só dois lados
da mesma viagem
O trem que chega
é o mesmo trem da partida
A hora do encontro
é também despedida...
(Encontros e despedidas, de Milton Nascimento e Fernando Brant)

Tenho apreço por aeroportos. Mais que isso, atração mesmo! Isso está ligado ao meu espírito – como bom sagitariano, aventureiro e livre. Chama-me a atenção aquela movimentação de pessoas indo e vindo, aqueles rostos na expectativa da viagem dos sonhos, do primeiro vôo, de apenas mais um vôo, rostos felizes, rostos cansados.
Na verdade, o que me atrai é imaginar as histórias que cada rosto esconde. É incrível imaginar que todos ali, juntos naquele instante, estarão daqui a pouco em lados quem sabe até opostos, como na Inglaterra e na África do Sul. Cada rosto tem um destino, cada destino tem uma história – e é nisso que penso sempre que estou num aeroporto aguardando aquelas horas intermináveis até o embarque. Para onde irá aquele jovem? O que fará aquele casal em Frankfurt? “Última chamada para o vôo TP 1845 com destino a ‘Geneve’”, diz o sistema de som. “Geneve!” Um dia irei para “Geneve”, penso.
Sim, os aeroportos são locais encantadores. Conseguem unir pessoas de todos os cantos do mundo (ora, se a Terra é redonda, quem inventou esse negócio de cantos?). Há vôos partindo para Manaus, Curitiba, Nova York, Tóquio, Lisboa e Frankfurt. A cada minuto, uma decolagem, vidas subindo rumo aos seus destinos. A cada minuto, uma aterrissagem, vidas chegando em seus destinos. Vidas indo, vidas vindo, aeroportos... E pensar que daqui a pouco eu estarei em Paris...

PS: qualquer hora escreverei sobre alguns aeroportos específicos.

Plano de viagem 2

Se você gosta de museus e, principalmente, se tem como parte do roteiro algum dos grandes museus do mundo, fique atento: chegar cedo é essencial. MoMa, Metropolitan, Louvre, Prado, National Gallery, Van Gogh Museum... todos estarão sempre lotados, ainda que você esteja no que os agentes de viagem costumam chamar de baixa temporada. Acredite: em 15 minutos, a tal baixa temporada poderá se transformar num transtorno.
Numa recente viagem, eu e um amigo percebemos esse fenômeno a tempo de alterar o roteiro em todos os dias em que reservamos visitas a museus. Foi essencial. Em alguns casos, apenas chegar cedo não bastou. Era preciso tirar vantagem disso. No Louvre, por exemplo, tão logo entramos, decidimos correr para ver todas as grandes atrações básicas – uma lista que incluía a Vitória de Samotrácia, a Vênus de Milo e a Monalisa. Deu certo.
Por curiosidade, voltamos posteriormente a essas atrações. E nos divertimos. Em meio à multidão, parecíamos dois alienígenas pouco interessados em ver a Monalisa. Naquela hora, queríamos mesmo é ver a muvuca (que você também pode ver na foto acima).

PS: para chegar cedo e aproveitar bem os museus, é necessário saber o horário de abertura. Confirme em guias e nos sites oficiais para não ter problemas. Lembre-se: uma hora fará toda a diferença. No único museu em que entramos “fora do horário”, imaginávamos que o fechamento seria às 18h. Fizemos a visita nesse ritmo. Eis que 17h15 o sistema de som informou que o museu fecharia em 15 minutos. Foi uma correria – e o pior é que tínhamos deixado o melhor para o fim. Pois é, um erro estratégico e o Museu D'Orsay deixou aquele gostinho de “quero mais”.

Amsterdã sem tulipas

Amsterdã é a cidade dos canais - os gracht. Qualquer nome que termine em "gracht" significa que se refere a um canal. Também é a cidade das prostitutas nas vitrinas, das drogas, etc, etc, etc. Tudo isso é um pouco verdade (um pouco porque essa questão das drogas não é exatamente aquela farra que todos pensamos que é).
Embora os canais sejam realmente encantadores, dão um ar diferente à cidade; embora as prostitutas nas vitrinas sejam algo inusitado, estranho; embora existam efetivamente bares que vendem maconha, não foi nada disso que mais me chamou a atenção. Foram as bicicletas. Eu já sabia que elas eram um meio de transporte em Amsterdã; ainda assim, confesso que me surpreendi em como elas estão inseridas na vida do cidadão. Era curioso ver pela manhã pais saindo de casa para o trabalho em bicicletas, levando nas cestinhas os filhos para a escola.
Um outro fato me chamou a atenção. Um "não-fato". Tinha uma expectativa enorme para ver as tulipas. Encontrei-as em jardins de outras cidades - Lisboa, Madrid, Londres, Paris... Não em Amsterdã. Pode ser que não tenha procurado no lugar certo, olhado na direção certa, mas na terra das tulipas esperava esbarrar nelas a cada esquina. Não foi assim. Não vi tulipas em Amsterdã. Não vi tulipas na Holanda... É certo que as circunstâncias fizeram com que deixasse de alugar um carro para ir até Keunkenhoff, onde há um campo de flores, mas ainda assim cruzei o país de trem e nos campos havia apenas... verde. Foi uma decepção!
Apesar disso, Amsterdã é bela, única, os canais são encantadores, as prostitutas na vitrina são uma cena inusitada e a maconha... bem, deixa para lá...

O tal fundo azul...

Na postagem sobre arte, fiz referência à beleza de "Girassóis", de Van Gogh. Os de fundo amarelo são belos. Os de fundo azul são para mim ainda desconhecidos. No entanto, foram tão comentados durante uma recente viagem que despertaram minha curiosidade. Para quem, como eu, não imaginava que eles existiam, aí está.

Arte - uma questão de referencial

Eu não entendo nada de arte (um amigo até me falou isso, embora eu já soubesse). Da arte, sou apenas um espectador. Aprecio e me divirto (neste caso, notadamente com arte contemporânea). Nas minhas viagens, a arte tem ocupado um espaço importante. Num recente giro pela Europa, então, foram tantos museus... A demasia de imagens e informações motivou até uma conversa - que beirou uma discussão - interessante com um amigo. A questão chave era: por que alguns artistas e algumas pinturas tornaram-se célebres?
Ao olhar tantos quadros de Miró, Picasso, Dalí, van Gogh, Rembrandt, Monet, Da Vinci, Rafael, Velasquez, etc, é inevitável pensar: o que faz deste - e não daquele ao lado - um quadro especial? Em alguns casos, eu dizia na discussão, algo se sobressai. Um exemplo é Guernica, de Picasso. Primeiro porque ele tem um tamanho monumental (o que, por si só, já o destaca) e também porque marca um protesto político ao focar os males da Guerra Civil Espanhola. Em outros casos, porém, a distinção é mais difícil.
O amigo interlocutor desta discussão alegou, com razão, que há motivos que tornam uma pintura especial. Os entendidos de arte saberiam explicar. Não eu. Eram, porém, as impressões de um mero espectador que estavam em questão.
O fato é que, em meio à divergência, houve uma conclusão em concordância: tudo depende do referencial, das expectativas que se nutre. Por mais absurdo que possa parecer, tinha ouvido tantas pessoas dizerem que a Monalisa, de Da Vinci, era um quadrinho pequenino que, ao vê-la, surpreendi-me. É fantástica! Não que seja enorme, mas é muito mais do que a minha expectativa supunha naquele momento.

PS: conhecer os principais museus do mundo é ter a certeza de surpresas. Para mim, uma delas foi descobrir que havia dois Girassóis, de van Gogh. Dois não, mais - e em duas versões, uma com o tradicional fundo amarelo e outra com fundo azul. Um deles está na National Gallery, em Londres. Outro no Van Gogh Museum, em Amsterdã. Ambos com fundo amarelo. Ambos belos. E nisto reside outra surpresa: não há imagem - em livros, cartões postais ou seja lá o que for - que consiga captar e traduzir a beleza daquelas cores.

Em tempo: este "PS" é uma homenagem ao interlocutor da tal discussão sobre arte. Afinal, discussões nos fazem refletir.

Paris - o belo e o feio

Tenho um monte de pensamentos na cabeça que carrego desde a recente viagem que fiz. São divagações sobre museus, arte, vida... Isso tem sido um pouco freqüente neste blog. Não que seja uma anormalidade (falar de viagens no sentido literal e figurado é a minha proposta). Acho, porém, que tem faltado um pouco mais sobre cidades, lugares. Portanto, arriscarei escrever sobre Paris, ainda que não tenha nada tão interessante em mente.
Paris é uma cidade. Claro que isto é óbvio. Trata-se, porém, de uma obviedade necessária de ser dita. É que o glamour, a aura que a cerca, seu charme, romantismo e esoterismo a transformam em algo quase sobrenatural, fantástico. Nisto não há surpresa. O que poucos imaginam encontrar em Paris - ao menos na primeira viagem - é justamente... uma cidade. Um lugar onde há pessoas bem e mal humoradas, onde há carros buzinando, onde há favelas e sujeira, onde as pichações chamam a atenção de um brasileiro em tese acostumado a tamanha falta de educação em suas cidades.
Paris tem vida, é uma cidade como todas as outras grandes cidades, ainda que tenha a Torre Eiffel, o Louvre, o Arco do Triunfo... - e isto faz toda diferença!
Um amigo que esteve recentemente em Nova York e Paris, nas duas ocasiões debutando, costuma exclamar com alegria: "são como São Paulo!". Claro que cada lugar tem suas especificidades. Ele se refere, porém, ao clima da cidade. E não deixa de ter razão (quem o ouve sabe o que ele está querendo dizer). Ainda assim, Paris surpreende. Pelo que tem de belo, sim, mas também pelo que tem de feio. Esta é a reação de quem tinha absoluta certeza de que encontraria na capital francesa todo o glamour, o charme, o romantismo e o esoterismo que a caracterizam, mas nunca imaginou ver tantas pichações, tantos guetos, tanta vida...

PS: usar a palavra "feio" é uma provocação que me impus. Desde que vi Paris pela primeira vez, desejei chamá-la de feia. Apenas para provocar...

Plano de viagem 1

Viajar - principalmente quando se trata de uma viagem de férias - é bom. Haverá provavelmente uma série de questões a resolver, problemas surgirão, mas ainda assim você estará curtindo um período de férias, o que por si só contribui para deixar os problemas menores. Tomar algumas precauções, porém, ajuda a tornar a viagem mais segura. A seguir vão algumas dicas que podem contribuir para reduzir as dores de cabeça em sua viagem.

1) Planejamento é essencial. Faça um roteiro, familiarize-se com os lugares, as ruas, as estações de metrô. Provavelmente você acabará mudando o roteiro na hora "h" e o planejamento será essencial para isso.
2) Atenção com os plugues de câmeras e outros aparelhos em viagens ao Exterior. Leve adaptador, pois você pode correr o risco de ficar sem carregar as baterias.
3) Em geral, aeroportos ficam distantes dos centros urbanos. O transporte de um local a outro pode custar caro. Planeje estes gastos. Via de regra, aeroportos possuem sistemas de ligação com os centros por trem ou metrô - o que pode tornar o percurso mais barato.
4) Não subestime o frio. Definitivamente!
5) Atente-se aos horários de vôos. Pode ser que você tenha que acordar às 3h para pegar um avião às 7h...
6) Em alguns trajetos, verifique se realmente ir de avião é melhor do que de trem. O percurso pode até ser mais rápido voando, mas é preciso considerar o tempo que se perde antes e depois nos aeroportos (entre 3 e 4 horas).
7) Na hora de alugar um carro, informe-se sobre o uso de GPS. Algumas locadoras não alugam o aparelho se você pegar o veículo num país e devolvê-lo em outro (o que é comum na Europa).
8) Comprar passes de metrô para os dias que você estará na cidade é sempre mais barato do que ficar comprando dia a dia.

Turbulências (two, four, five!)

Viajar é prazeroso no conjunto da obra, mas é inegável que existem momentos irritantes - porém, necessários. Eis um deles: o da turbulência. Detesto turbulência. Um amigo que recentemente viajou comigo costuma dizer: "Eu não ligo". Sinceramente, não sei se ele liga ou não, eu ligo! Não sei se é medo ou o quê, o fato é que as turbulências reforçam-me a sensação de impotência. Você está nas mãos dos pilotos, de uma máquina, da natureza e de Deus.
Sim, é a Ele que apelo sempre que a situação aperta. Até hoje deu certo. Incrivelmente, sempre que uma turbulência passa do normal (existe uma "normal"?), meus apelos são ouvidos quase que de imediato. O avião retoma o que se convencionou chamar de "céu de brigadeiro". E eu adoro brigadeiro!
O mais curioso é que já gostei de turbulência. Tudo bem, eu tinha 13 anos e tudo era festa, mas gostei daquela tremidinha a 12 mil metros de altura. Hoje, chego a sentir pavor, talvez só superado pelo momento da decolagem. Nutro amor e ódio pelas decolagens. Aprecio aquela velocidade insana, aquela aceleração rápida, mas imaginar que aquelas toneladas poderão não subir é agoniante.
E olha que eu tenho fascínio por aviões. Guardo todos os cartões de embarque. Costumo dizer que sou um piloto frustrado. Como passageiro, porém, a sensação de não estar no comando da situação mexe com os nervos. E até de quem voa muito - vide o inglês que sentou ao lado do meu amigo e só sabia repetir "two, four, five" ou algo assim.

Em tempo: apesar de tudo, voar é preciso. O avião reduz as distâncias. Hoje, é possível tomar café da manhã em Paris, almoçar em Lisboa e jantar em Limeira num mesmo dia; mas que manter os pés no chão, longe das turbulências, é atraente, isto é! Ainda assim, eu vôo. Afinal, é o avião que nos leva mais facilmente a qualquer canto do mundo...

"Laissez-faire"

As férias acabaram. Foram seis países, seis capitais, seis vôos, duas viagens de trem, 15 museus, quatro montanhas-russas, muita caminhada, muitos degraus (ah, a Saint Paul's Cathedral...), muitas compras, muito papo, muitas cervejas (nem tantas em Paris), muita informação e um caderninho cheio de anotações - como prometera. Ou seja: nas próximas postagens, um pouco sobre os 18 dias passados entre Lisboa, Madrid, Londres, Amsterdã, Bruxelas e Paris.
Já perto do fim da viagem, no penúltimo dia em Paris, fiquei pensativo. Muito pensativo. Sabia - e passei por isso mais uma vez - que uma viagem dessas muda paradigmas. Faz pensar sobre uma série de coisas. Nas minhas reflexões, lembrei-me de uma frase vista num letreiro no Centro George Pompidou. Dizia simplesmente: "Laissez-faire". De imediato, recordei-me das aulas de história - o tal "laissez faire, laissez passer". Comentei com o amigo que viajava comigo. O assunto parou ali. Até que o retomei do nada naquele penúltimo dia em Paris. Disse-lhe: "a partir de agora, vou adotar a filosofia do 'laissez faire'". Expliquei o que pensava. Ele riu.
O fato é: viagens ajudam a mudar as pessoas. A moldar as pessoas. Para mim, a partir de agora, "laissez faire"!

PS: segundo o Wikipedia, "laissez faire" é a contração da expressão francesa "laissez faire, laissez aller, laissez passer" - "deixai fazer, deixai ir, deixai passar". A frase é legendariamente atribuída ao comerciante Legendre, que a teria pronunciado numa reunião com Colbert no final do século 17. Contudo, a ligação da frase com a doutrina econômica que a marcou historicamente remonta ao século 18. Ela resumia a defesa do mercado livre.

Ah, museus... - parte 2

Um leitor deste blog - e amigo - sugeriu, ao ler a postagem sobre museus, uma visita a dois deles - ambos no Brasil. Sugeriu o Museu Imperial, em Petrópolis (RJ), e o Masp, em São Paulo.
Quando criei este blog, decidi que só comentaria sobre lugares que conheço. Como já estive em ambos os museus sugeridos, aí vão os comentários:

* Museu Imperial - Considerando que o Brasil teve - na comparação com países de tradição real - um curto período imperial, este lugar é o máximo. A arquitetura é bela, em estilo neoclássico, o que por si só já valeria uma visita. O museu em si guarda as "jóias" (no sentido literal e figurado) do império brasileiro. É uma viagem por uma época que dificilmente voltará. Apenas por curiosidade, o prédio - residência de verão da família real - foi construído entre 1845 e 1862. Antes, em 16 de março de 1843, um decreto do imperador Pedro II criou Petrópolis. A transformação do lugar em museu ocorreu em 16 de março de 1943 (curiosamente um século após o decreto do imperador) por meio de um decreto do presidente Getúlio Vargas.
Em tempo: em Petrópolis, cidade que carrega em seu nome a marca do império, existem muitos outros lugares para ir - ligados ao período imperial (como o Palácio de Cristal) ou não (como a casa de Santos Dumont, interessantíssima).
* Masp - Confesso que a última vez que passei por ele, no ano passado, tive uma certa impressão de desleixo nos arredores. Contudo, o mais importante do Masp é o seu acervo (e é sempre agradável ver uma obra de arte) - embora o prédio seja um marco da paulicéia desvairada, uma obra-prima da arquitetura, um desafio à lógica daqueles que nada entendem de engenharia.

PS: para quem quiser arriscar um passeio virtual, os sites destes dois museus são http://www.museuimperial.gov.br/ e http://masp.uol.com.br/.

Ah, museus...

Assim como igrejas são templos da fé, museus são templos do conhecimento.
Para muitas pessoas, são passeios chatos. Trata-se de um pré-julgamento – embora, reconheço, seja necessária uma boa dose de disposição para ir a um lugar desses. Disposição física e emocional. É preciso estar disposto a vivenciar experiências, do contrário o museu será nada além do que... um museu.
Para tantas outras pessoas, museus são meros pontos turísticos. Logo, vai-se ao Louvre porque lá está a famosa Monalisa, do mestre Leonardo Da Vinci. É quase como cumprir um dever – o tal “estive lá”. Passam pelo museu como se estivessem em um estádio de futebol.
Para algumas pessoas, porém, os museus têm alma. Vão muito além de quadros e objetos. São verdadeiras experiências – cujas sensações são quase indescritíveis. Pretendo a qualquer hora escrever sobre isto. Desta vez, porém, prefiro fazer a minha lista de museus. Iria colocá-la no espaço “minha lista de...”, mas lá não caberiam comentários. Então, aí vão (sem qualquer ordem de importância):

1) Casa do Emigrante (Auswanderhaus) – Bremerhaven (Alemanha) – um museu novo, em formato de navio, que conta a história das pessoas que emigraram para a América no século 19. Moderno, diferente, sensacional. O visitante é levado a tornar-se um emigrante.
2) Museu da Língua Portuguesa – São Paulo, SP – diferente, como não podia deixar de ser. Afinal, como contar a história de uma língua? É preciso muita criatividade – e este lugar tem de sobra. Basta dizer que o visitante é levado a “sentir” – isto mesmo – a língua portuguesa. A sala dos poemas é simplesmente fenomenal!
3) MoMa (Museu de Arte Moderna) – Nova York (EUA) – Você pode visitá-lo (como um espectador) ou senti-lo (que tal interagir com as obras, ainda que isto se dê no seu íntimo apenas?). Encontrar a versão de Andy Warhol sobre Marilyn Monroe e “O tocador de Alaúde” pintado por Joan Miro foi particularmente emocionante. Ah, visitar este lugar com um amigo entusiasmado é ainda melhor.
4) Museu de História Natural – Nova York (EUA) – Conhecer este lugar era um sonho. Por um único motivo: o T-rex. Sim, é possível com um pouco de esforço imaginar-se alguns milhões de anos atrás correndo de um tiranossauro, cujos dentes afiados e ameaçadores estão apenas alguns palmos à frente. E tem muito mais!
5) Museu da Aviação – Washington, D.C. (EUA) – Confesso que imaginava ver muito mais daqueles caças F-qualquer coisa que a Força Aérea americana desfila por aí. Ainda assim, é um lugar diferente, que conta um pouco da história da aviação e da conquista do espaço (a parte espacial é, sem dúvida, a mais atraente).

PS: Há muitos outros interessantes que merecem estar nesta lista, caso do Metropolitan (Nova York) e de alguns palácios que se constituem em verdadeiros museus. Busquei, porém, fazer uma seleção de estilos diferentes. Haverá oportunidade para comentar sobre os demais. O importante é saber que - parafraseando o grande Fernando Pessoa - todo museu vale a pena se a alma não é pequena.

Para ti, para todos

Aquele chão de pedras, aquelas casas coloridas, aquelas igrejas históricas, aquela iluminação que lembra luz de velas, aquele ar, aquele mar... Definitivamente, Paraty é uma pérola. Não há como não se encantar com a cidade, encravada numa das mais belas rotas rodoviárias do mundo, a Rio-Santos, que liga o litoral paulista ao fluminense.
Fundada em 1597, Paraty oferece um pouco de tudo: uma rica arquitetura colonial, preservada como em poucos lugares; pontos de elevado valor histórico; uma cultura invejável (não é à toa que lá se realiza a Flip, uma das mais tradicionais feiras literárias); aventura e ecoturismo nas trilhas e cachoeiras; e um mar deslumbrante, recheado de ilhas belas (com o perdão do trocadilho). Para temperar tudo isso, o clima - não o geográfico, mas o psicológico, aquele que não é captado pelas previsões, que está em cada detalhe, invadindo a alma de quem por lá passa.
Se tivesse que definir Paraty em uma palavra, diria "mágica"! Uma magia irradiante, que se acentua com o entardecer e se renova ao nascer do sol. E se não bastasse, Paraty ainda tem um nome poético, como se definisse um lugar feito para ti, para mim, para todos nós. E fica logo ali, a 23º56’26” S de latitude e 46º19’47” W de longitude. O que está esperando?

PS: para saber mais sobre Paraty, acesse http://www.pmparaty.rj.gov.br/

Uma outra viagem

Estava querendo escrever sobre Paraty. Estou querendo... Decidi, porém, adiar para falar de uma outra viagem, uma viagem feita agora há pouco. Foi profunda, séria e extremamente satisfatória. Diria que foi um êxtase! Fui a um bate-papo com estudantes de Jornalismo do Isca Faculdades, de Limeira. Lá pelas 22h15, já no encerramento, um jovem levanta a mão e faz a pergunta derradeira: "Ser jornalista lhe dá satisfação?".
Parei. Fiquei uns 30 segundos pensativo. Não sabia o que falar. Senti a responsabilidade da resposta. Nunca tinha parado para fazer essa viagem ao meu íntimo e, paradoxalmente, esta é a viagem que mais tenho feito nos últimos tempos. Na verdade, nunca alguém tinha me perguntado sobre isso assim, em público. Respirei fundo, mergulhei no fundo da alma, lembrei do que tinha escrito neste blog no espaço destinado ao perfil e comecei a falar."Sou jornalista por uma questão sangüínea, como disse no meu blog." O resto desta viagem ficará reservado àquelas pessoas que estavam lá. Não conseguiria repetir com tanta profundidade - e aquela manifestação exigiria isso. Senti-me estranhamente bem. Senti que naquele momento cumpri o meu papel...

PS: ... reforçou-me esse sentimento ouvir um amigo dizer: "Piscitelli! Deu até vontade de chorar". Ante um olhar inquisidor, ele reafirmou. "Deu mesmo!". Como sei que ele é sincero, deve ser verdade. E ele deve ter ficado com vontade de chorar mesmo. Só não quis fazer isso em público...

Ocidente e oriente, passado e futuro

"Não é nada fácil se acostumar às diferenças culturais da Coréia do Sul. É tudo muito diferente daquilo a que nós, brasileiros, estamos acostumados. No Brasil, por conta da imigração japonesa, o referencial que temos de Oriente é o japonês. E a Coréia é completamente diferente do Japão. É como comparar o Brasil com a Argentina, com população, cultura e costumes completamente diferentes."
Este é um trecho de uma reportagem assinada por Jocelyn Auricchio para a Agência Estado. Uma boa síntese, que me fez pensar na Argentina e no Japão. E em diferenças culturais. Conhecer Buenos Aires, a capital argentina, é mergulhar num lugar que parece viver do passado. Sim, a cidade é bela, um pedaço da Europa na América do Sul. E é justamente isto que se torna sua qualidade e seu defeito (talvez esta seja uma palavra forte...). É inevitável sentir um certo clima de melancolia, uma tristeza no ar de quem já não é mais o que um dia foi... É um tango.
Tóquio, a capital japonesa, é o oposto. Vê-se a tradição em muitos cantos, mas predomina o ar de modernidade. Ao contrário de Buenos Aires, o clima é "hi-tech", de quem já é o que os outros talvez um dia serão.

Mi Buenos Aires querido,
cuando yo te vuelva a ver,
no habra más penas ni olvido
(Letra: Alfredo Le Pera; música: Carlos Gardel, 1934)

*** Se você quiser ler toda a reportagem mencionada, acesse os comentários logo abaixo.

Uma cidade, outras cidades

Algumas coisas são feitas para turistas. Muitas vezes, esta afirmação carrega um sentido pejorativo. Algumas destas vezes, este sentido faz sentido. Isto, porém, não é uma regra. Quando visito um lugar, procuro conhecer tudo o que foi feito para turista. Tento, porém, buscar tempo para descobrir coisas feitas para o cidadão comum. Assim, tão prazeroso quanto conhecer a "Miss Liberty" é passar uma hora sentado numa praça repleta de estudantes fazendo malabarismos, cantando, dançando, protestando, fumando (maconha até?) num canto qualquer do Village.
Claro que todos vão querer saber da Estátua da Liberdade (a tal "miss"). Vão considerar uma blasfêmia não ter ido ao local. Poucos - ou ninguém - vão perguntar sobre uma praça repleta de estudantes no Village. Não estranharão a sua ausência. A famosa estátua estará no relato de dez entre dez turistas que forem a Nova York. A tal praça, ao contrário, será um relato quase único (triplo no meu caso).
Há, sim, uma cidade feita para turista. E isto é bom! Há, também, uma outra cidade, reservada aos olhares mais atentos e dispostos. É a mistura de ambas que enriquece uma viagem. Limitar-se à primeira fará de você mais um turista. Ir além o tornará um turista único. Afinal, longe dos pontos turísticos, cada um faz a sua própria cidade.

Em tempo: em Nova York, não deixe de ir a qualquer pequeno restaurante do Village. Se bobear, alguém dirá que os brasileiros estão voltando e que os americanos são "open mind", mas não a ponto de eleger um... deixa para lá. Quem sabe você não encontra por perto a tal praça repleta de estudantes?

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