Arte - uma questão de referencial

Eu não entendo nada de arte (um amigo até me falou isso, embora eu já soubesse). Da arte, sou apenas um espectador. Aprecio e me divirto (neste caso, notadamente com arte contemporânea). Nas minhas viagens, a arte tem ocupado um espaço importante. Num recente giro pela Europa, então, foram tantos museus... A demasia de imagens e informações motivou até uma conversa - que beirou uma discussão - interessante com um amigo. A questão chave era: por que alguns artistas e algumas pinturas tornaram-se célebres?
Ao olhar tantos quadros de Miró, Picasso, Dalí, van Gogh, Rembrandt, Monet, Da Vinci, Rafael, Velasquez, etc, é inevitável pensar: o que faz deste - e não daquele ao lado - um quadro especial? Em alguns casos, eu dizia na discussão, algo se sobressai. Um exemplo é Guernica, de Picasso. Primeiro porque ele tem um tamanho monumental (o que, por si só, já o destaca) e também porque marca um protesto político ao focar os males da Guerra Civil Espanhola. Em outros casos, porém, a distinção é mais difícil.
O amigo interlocutor desta discussão alegou, com razão, que há motivos que tornam uma pintura especial. Os entendidos de arte saberiam explicar. Não eu. Eram, porém, as impressões de um mero espectador que estavam em questão.
O fato é que, em meio à divergência, houve uma conclusão em concordância: tudo depende do referencial, das expectativas que se nutre. Por mais absurdo que possa parecer, tinha ouvido tantas pessoas dizerem que a Monalisa, de Da Vinci, era um quadrinho pequenino que, ao vê-la, surpreendi-me. É fantástica! Não que seja enorme, mas é muito mais do que a minha expectativa supunha naquele momento.

PS: conhecer os principais museus do mundo é ter a certeza de surpresas. Para mim, uma delas foi descobrir que havia dois Girassóis, de van Gogh. Dois não, mais - e em duas versões, uma com o tradicional fundo amarelo e outra com fundo azul. Um deles está na National Gallery, em Londres. Outro no Van Gogh Museum, em Amsterdã. Ambos com fundo amarelo. Ambos belos. E nisto reside outra surpresa: não há imagem - em livros, cartões postais ou seja lá o que for - que consiga captar e traduzir a beleza daquelas cores.

Em tempo: este "PS" é uma homenagem ao interlocutor da tal discussão sobre arte. Afinal, discussões nos fazem refletir.

Paris - o belo e o feio

Tenho um monte de pensamentos na cabeça que carrego desde a recente viagem que fiz. São divagações sobre museus, arte, vida... Isso tem sido um pouco freqüente neste blog. Não que seja uma anormalidade (falar de viagens no sentido literal e figurado é a minha proposta). Acho, porém, que tem faltado um pouco mais sobre cidades, lugares. Portanto, arriscarei escrever sobre Paris, ainda que não tenha nada tão interessante em mente.
Paris é uma cidade. Claro que isto é óbvio. Trata-se, porém, de uma obviedade necessária de ser dita. É que o glamour, a aura que a cerca, seu charme, romantismo e esoterismo a transformam em algo quase sobrenatural, fantástico. Nisto não há surpresa. O que poucos imaginam encontrar em Paris - ao menos na primeira viagem - é justamente... uma cidade. Um lugar onde há pessoas bem e mal humoradas, onde há carros buzinando, onde há favelas e sujeira, onde as pichações chamam a atenção de um brasileiro em tese acostumado a tamanha falta de educação em suas cidades.
Paris tem vida, é uma cidade como todas as outras grandes cidades, ainda que tenha a Torre Eiffel, o Louvre, o Arco do Triunfo... - e isto faz toda diferença!
Um amigo que esteve recentemente em Nova York e Paris, nas duas ocasiões debutando, costuma exclamar com alegria: "são como São Paulo!". Claro que cada lugar tem suas especificidades. Ele se refere, porém, ao clima da cidade. E não deixa de ter razão (quem o ouve sabe o que ele está querendo dizer). Ainda assim, Paris surpreende. Pelo que tem de belo, sim, mas também pelo que tem de feio. Esta é a reação de quem tinha absoluta certeza de que encontraria na capital francesa todo o glamour, o charme, o romantismo e o esoterismo que a caracterizam, mas nunca imaginou ver tantas pichações, tantos guetos, tanta vida...

PS: usar a palavra "feio" é uma provocação que me impus. Desde que vi Paris pela primeira vez, desejei chamá-la de feia. Apenas para provocar...

Postagem em destaque

A Veneza verde do Norte

A tecnologia que empresas suecas levam mundo afora hoje em dia não é um acaso. O país tem vocação para invenções e descobertas. O passado v...

mais visitadas