Aniversariantes especiais

Dois patrimônios mundiais completaram aniversários importantes este ano. A Torre Eiffel, em Paris, comemorou 120 anos. Em Londres, o Big Ben celebrou 150 anos de história. Este carrega desde sempre o valor do tradicionalismo inglês. Já a Torre Eiffel tem uma história um tanto curiosa. Construída para o centenário da Revolução Francesa, foi alvo de críticas de moradores, que a consideraram um “monstrengo” que desfigurava a bela paisagem parisiense.
O tempo se encarregou de dar à torre – que leva o nome do seu projetista – o valor que ela merece. O tempo também fez dela e do colega britânico símbolos maiores não só de suas cidades-sede, mas de seus países. Assim, a Torre Eiffel está para a França como o Big Ben está para a Inglaterra.
Apesar disso, sempre vi com certa reticência os dois monumentos. Não que duvidasse de seus valores como patrimônio ou discutisse suas belezas; apenas os considerava “turísticos” demais, se é que existe algum mal em ser turístico. À distância, ambos me soavam como “Disneylândia”, substantivo que assume ares de adjetivo para qualificar algo como “fake” (não um falso no sentido literal e simo como algo feito só para agradar o visitante).
Tremendo engano. Subestimei o relógio e a torre – ditos assim, informalmente, para que se estabeleça uma contradição clara entre a palavra escrita e o significado embutido nela (ou, para quem gosta de semiótica ou linguística, entre significante e significado). Ambos são muito mais belos do que se imagina. Do eu que imaginava. Claro, algo não poderia à toa se tornar símbolo de países tão ricos culturalmente como França e Inglaterra.

A sensação de ver a Torre Eiffel pela primeira vez, ao longe, foi suficiente para mover minhas entranhas e, de cara, derrubar tal como um terremoto todas as minhas suposições. Quanto mais perto dela eu chegava, mais me encantava. Ela é como uma bela dona, que monopoliza as atenções no centro de uma festa, que despeja seu charme, sua beleza, sua magnitude e seu poder sem que alguém possa ousar contestá-la. Não há espaço e tempo para isso. Ambos, espaço e tempo, param diante dela.
A Torre Eiffel é monumental vista de longe, de perto, de cima, de baixo. Claro que a paisagem parisiense que a cerca contribui para acentuar tudo o que ela representa, mas isto de forma alguma reduz o seu valor. Pelo contrário, o cenário acrescenta. Parece miragem, mas não é – eis o segredo da torre.

Com uma funcionalidade maior do que a da torre, porém sem a possibilidade da vista às alturas, o Big Ben chama atenção por sua nobreza. Tal como em Paris, o cenário ao redor – com o Parlamento, a Abadia de Westminster e o Rio Tâmisa - acentua o brilho deste monumento, que como uma metonímia leva a parte pelo todo (o nome Big Ben na verdade é do sino e não da estrutura em si).
Belo e imponente, o Big Ben é a referência temporal e espacial dos londrinos. Se em Paris a Torre Eiffel tem a capacidade de parar o tempo e o espaço, em Londres o famoso relógio dita o tempo e o espaço.
A Torre Eiffel e Big Ben foram feitos para serem admirados, contemplados. E a contemplação exige mais do que a disposição em ver; é preciso também estar disposto a sentir.


* A Torre Eiffel recebe cerca de seis milhões de turistas por ano. Atualmente, em média, ela é palco de quatro suicídios por ano - o número já foi maior, mas medidas de segurança foram tomadas. Para saber mais sobre a torre, clique aqui.


* Três pessoas cuidam da exatidão do Big Ben. Eles dão corda no relógio três dias por semana - segunda, quarta e sexta-feira.


PS: para ver mais fotos, clique aqui.

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