São
83 mil quilômetros quadrados de deserto, praticamente 7% do território peruano,
uma imensidão de areia que acompanha a costa do país. A região tem uma combinação
especial: falta de vento e um dos locais mais secos do mundo. Resultado: marcas
deixadas por povos antigos foram preservadas durante séculos. Mas para vê-las
só do alto... Nossa equipe embarcou para um sobrevoo de uma hora e 40 minutos
sobre a região.
A
vista aérea revela os contrastes do deserto. No meio do terreno árido surgem
vales esverdeados e áreas agrícolas. Em alguns pontos, as ranhuras formadas
pela topografia lembram veias e artérias. A região é montanhosa. Do alto, a
única estrada que corta o trecho parece um rio. Mas o que predomina mesmo é o
imenso vazio de areia. A paisagem até pode parecer monótona, mas é intrigante. Ali,
no meio do nada, viveram civilizações importantes, como os nasca.
Os primeiros
sinais deixados por este povo nas areias do deserto aparecem depois de meia
hora de voo. São desenhos geométricos. Triângulos e trapézios gigantes. Tantos
que é impossível contar. Logo surgem os
desenhos. Primeiro a baleia. A sombra do avião dá uma ideia do tamanho das
figuras. Elas chegam a 300 metros de comprimento. Depois aparecem o cachorro, o
papagaio, o macaco, a aranha... Os passageiros não tiram os olhos das janelas
do pequeno avião.
O
astronauta, único desenho feito numa montanha, é o menor de todos - tem 32
metros. É também um dos mais conhecidos e enigmáticos. Ao lado da rodovia,
estão a árvore e as mãos. O colibri é o símbolo das linhas de Nasca e uma das
figuras mais bem preservadas. É realmente impressionante imaginar porque os povos
fizeram estes desenhos, como fizeram e como tudo foi preservado.
As linhas de Nasca foram motivo de mistério ao longo dos anos. Várias teorias tentaram descobrir o que elas significam. Segundo o museógrafo Edilberto Mérida, os desenhos estão intimamente ligados à vida no deserto. “Por ser uma cultura que não tem muita água, todos os rituais e todas as manifestações são para a busca e a invocação da chuva, da água. Nessa busca de água, eles traçam grandes linhas, grandes desenhos para serem percorridos nas cerimônias. Por exemplo: a figura da aranha é usada numa data muito especial em que invocavam justamente a aparição desses animais em certa época do ano. Eram caminhos rituais, com música, com dança”, explica.
Edilberto diz que os nasca tinham muito conhecimento de engenharia. No museu Inkariy, na região de Cusco, uma sala simula como os desenhos teriam sido feitos. Os cortes na areia não são muito profundos. É mesmo a geografia que explica a preservação das linhas, que atraem místicos, aventureiros, estudiosos e curiosos do mundo todo, todos os dias.
* Texto originalmente feito para o programa "Matéria de Capa" (TV Cultura, dom., 19h30)
** Em algumas fotos tive que estourar o contraste para salientar as imagens