Um encontro com Nefertiti

A vida tem sido generosa e me proporcionado alguns encontros históricos e importantes. Recentemente, fiquei frente a frente com uma das mais enigmáticas rainhas do Antigo Egito: Nefertiti. Ou melhor, com o seu famoso busto, uma das peças mais raras da arqueologia mundial. Ele está exposto no "Neues Museum", em Berlim, na Alemanha - é o objeto mais importante do museu.
Não vou me alongar na história da rainha egípcia - isto pode ser facilmente encontrado na Internet. Basta registrar, para efeito de contextualização, que Nefertiti viveu entre 1380-1345 a.C. e foi rainha da 18ª dinastia, tendo sido a esposa principal do faraó Amenófis 4°, conhecido como Aquenáton. Em que pese a fama da beleza de Cleópatra (hoje já questionada), o fato é que Nefertiti também é conhecida por seus atributos físicos.
O busto foi encontrado em 6 de dezembro de 1912 na área residencial de Amarna. A cidade - localizada nas margens do rio Nilo, a pouco mais de 300 quilômetros do Cairo, atual capital do país - foi capital do Antigo Egito durante o reinado de Aquenáton. Medindo 50 centímetros de altura, a peça chama a atenção pelo seu perfeito estado de conservação e pela vivacidade das cores. 
Em razão dos milênios decorridos, grande parte (provavelmente a maioria) das antiguidades apresenta-se unicolor - em tom de areia. Isto leva muitas pessoas a imaginar que o Antigo Egito era um reino sem cores, o que não é verdade. Felizmente, algumas peças preservam um colorido fantástico e, em outras, basta um olhar mais apurado para notar resquícios da pigmentação original.
No busto, a rainha aparenta estar maquiada e carrega ornamentos coloridos ao redor do pescoço e sobre a cabeça - possíveis sinais da realeza. Protegido por uma redoma, o busto ocupa o centro de uma sala especial, onde figura como protagonista (há uma réplica em um dos cantos para ser tocada por deficientes visuais). A iluminação dá a ele a nobreza que a rainha merece. 
Uma curiosidade: durante a Segunda Guerra Mundial, o busto de Nefertiti ficou protegido de ataques num abrigo na região da Turíngia. Só voltou para Berlim em 1956.




Recentemente, uma equipe de pesquisadores informou ter descoberto a possível tumba de Nefertiti. O corpo dela estaria sepultado numa ala secreta junto da câmara funerária do faraó Tutancâmon, enteado da rainha (o jovem faraó, que morreu aos 19 anos, era filho de Aquenáton). 
Anos atrás, uma outra pesquisadora divulgou ter identificado o que seria a múmia de Nefertiti. Toda a pesquisa e as evidências que levaram a esta hipótese foram mostradas num interessante documentário, "Nefertiti Ressurrected" (ou, em português, "Nefertiti Revelada"), exibido pelo canal Discovery Civilization.
O encontro com Nefertiti foi a cereja do bolo de uma série de visitas a múmias, estátuas e afins em museus mundo afora. A primeira vez foi no Metropolitan, em Nova York (EUA).
Foi também em Berlim, dois anos antes, que visitei uma exposição a respeito de Tutancâmon. Montada pelo Discovery, a mostra recriou a tumba original do jovem faraó, que assumiu o trono aos 9 anos de idade. Para isso, misturou a história dele com a do Antigo Egito e da descoberta da tumba em 1922 pelo inglês Howard Carter, sob patrocínio de lorde Carnarvon (a abertura do lugar ocorreu oficialmente em fevereiro de 1923). 
Embora grande parte dos objetos expostos fosse réplica, a exposição deu uma noção do nível de riqueza dos líderes do Antigo Egito. Tudo reluzia ouro - e a famosa máscara era das menores, embora talvez a mais bela, entre as peças douradas.
Não saberei descrever em detalhes o que vi (lembro bem de uma sequência de grandes caixões dourados, que protegiam o corpo do falecido). Recorro, então, a um trecho da descrição disponível no Wikipedia:
"Estava preenchida por quatro capelas em madeira dourada encaixadas umas nas outras, que protegiam um sarcófago em quartzito de forma retangular (...). Dentro do sarcófago encontravam-se três caixões antropomórficos, encontrando-se a múmia no último destes caixões; sobre a face, a múmia tinha a famosa máscara funerária. Decorados com os símbolos da realeza (a cobra e o abutre, símbolos do Alto e do Baixo Egito, a barba postiça retangular e cetros reais), o peso dos três caixões totalizava 1.375 quilos, sendo o terceiro caixão feito de ouro. (...) Na câmara do tesouro estava uma estátua de Anúbis, várias jóias, roupas e uma capela, de novo em madeira dourada, onde foram colocados os vasos canópicos do rei. Neste local foram achadas duas pequenas múmias correspondentes a dois fetos do sexo feminino, que se julgam serem as filhas do rei, nascidas de forma prematura."









 





É triste saber que muitos objetos da Antiguidade foram furtados e destruídos por exploradores inescrupulosos e ladrões. Ao mesmo tempo, é bom poder ver que algo foi preservado, ainda que pela ação de exploradores interessados em fama e dinheiro, não necessariamente em história. E para conhecê-los, é só viajar!

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