Pelos subsolos

Quem acompanha este blog sabe da importância que dou às caminhadas numa viagem. Não há forma melhor de conhecer um lugar do que recorrer ao mais antigo meio de locomoção: os pés! Nunca – repito, nunca! – abra mão de uma caminhada quando chegar a uma cidade. Isso não implica dizer que você deverá percorrer quilômetros em busca das atrações, cansando-se e perdendo tempo (algo precioso numa viagem). Significa apenas que você deve reservar algum tempo para caminhar. Simplesmente caminhar, despreocupadamente. Olhe as vitrines, observe as pessoas, o trânsito, as lojas, a vida na cidade enfim.
Caminhar, porém, não é o único meio de descobrir um lugar. Utilizar os meios de transporte também costuma ser uma experiência incrível. Isso permite que você entenda melhor como a cidade está organizada (se é que está...), que valor os moradores dão a ela e o mais importante: permite conviver com os locais, pessoas comuns, que estudam, trabalham ou simplesmente vão até a casa de um amigo ou parente usando o ônibus ou o metrô.
Fora do Brasil, você poderá observar interessantes aspectos culturais, desde a língua (ou a mistura delas) até os costumes (de leitura, vestimenta, etc). Na Europa, uma viagem de metrô lhe dará a certeza de que as cidades brasileiras têm muito o que avançar nesse quesito. Com linhas que ultrapassam facilmente os 400 quilômetros, os metrôs de Paris, Londres e Madrid, por exemplo, dão inveja ao de São Paulo. Repare que estou falando unicamente da extensão das linhas, pois os trens e as estações paulistanas não deixam nada a desejar às europeias.
Andar de metrô tem uma outra vantagem: você vai se deparar com as mais autênticas manifestações culturais do local, sejam pichações ou pinturas; sejam artistas populares, seus instrumentos e suas músicas ou cartazes de propaganda. No metrô de Londres, por exemplo, você poderá descer e subir as longas escadas rolantes observando a enxurrada de quadros publicitários.
Em Nova York (de longe o mais sujo e decadente dos metrôs das grandes cidades que conheci), os tipos populares e as pichações são os destaques (bem, os problemas estruturais também, como revela o vídeo a seguir postado no Twitter pelo jornalista Flávio Fachel, correspondente da TV Globo na cidade).



Em Madrid, não será difícil você usar vagões novos em estações idem, fruto dos pesados investimentos em transporte público feitos pela Comunidade Europeia antes da crise mundial (para se ter uma ideia, em 30 dias vi duas estações serem abertas, uma das quais me lembro o nome: Aviación Española). Não estranhe a quantidade de árabes e latinos no metrô madrilenho. Como em Paris, onde há grande quantidade de imigrantes e descendentes, muitos deles africanos.
Ah, não deixe de reparar nos nomes das estações: elas lhe ensinarão muito sobre a história e a sociedade locais (até arrumei uma confusão com um amigo porque, silencioso, pus-me a tentar decorar os nomes das estações...).
Não poderia encerrar sem falar das tradicionais mensagens dos metrôs. Afinal, elas se tornaram parte do cotidiano das cidades. Quem não se lembra do já famoso “Mind the gap” do metrô londrino? É quase um ícone sonoro da capital inglesa!
Ler, ouvir, ver. O metrô é uma verdadeira aula de cultura, antropologia e história. Uma verdadeira viagem (no sentido literal e figurado). Da próxima vez, portanto, não hesite em descer ao subsolo. Ele poderá lhe reservar agradáveis surpresas!

Em tempo: não tema se perder no metrô. Leia atentamente os mapas e cheque as linhas. Confirme as conexões, tire dúvidas com funcionários e usuários. Eles lhe ajudarão. E lembre-se: o princípio do sistema é o mesmo em qualquer cidade.

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