“Cá estou agora, sentado no Jardin du Luxembourg; meu coração alegre, mas a minha alma se alimenta de inquietude e nostalgia. Vivendo essa experiência na intensidade com que experimento e interrogo cada ondulação ou crispação do meu ser (...).
Entretanto, em Paris, o inverno estrebucha como o dragão vencido por São Jorge. Em cadeiras individuais, em torno de um vasto gramado (a grama queimada) dezenas de parisienses dormitam, leem, respiram fundo o ar puro. Estamos quetando o sol, mas no sentido inverso.

(...) me aposso de tudo o que há em Paris à espera daquele que está disposto a andar e ver. Andar muito, andar horas e horas, e ver tudo, examinar acuradamente... Entre tantas cidades lindíssimas que há na Europa, Paris é sem dúvida a mais bela, por causa dessa mistura bem dosada do antiquíssimo com o antigo, o
fin de siècle, a
belle époque... São quase dois mil anos de civilização aqui acumulados, coexistindo em harmonia perfeita, a qual não exclui os contrastes abismais.
(...) Meu coração alegre pede uma canção, a canção me estimula a caminhar... Pois debaixo da Pequena Ponte o Sena também corre, remoinha, apressado, pesado, velho e fatigado, e ao mesmo tempo jovem e saltitando nas pedras oblíquas de ambas as margens – o adorável rio Sena, cor de burro-quando-foge!”

* Texto de José Carlos Oliveira, no livro que dá nome a esta postagem, organizado por Jason Tércio, Editora Civilização Brasileira, páginas 170-1.