As “chaves” do paraíso

Imagine um lugar que mistura o desenvolvimento americano ao cenário paradisíaco do Caribe. Imagine uma faixa de terra estendida sobre o mar, quase como um rabisco, com o Atlântico de um lado e o Golfo do México do outro, separados por poucos metros. Imagine uma série de ilhas, ilhotas, pedacinhos de terra no meio de um infinito de água, onde românticos e aventureiros fazem amor e aventura. Pois é, este lugar existe e atende pelo nome de Flórida Keys (das quais a mais famosa é Key West).
Acessível a partir de Miami por meio de uma única estrada, a US 1, Key West permaneceu como um paraíso isolado do continente durante décadas. Para lá se dirigiam apenas alguns alternativos e afortunados, como o escritor Ernest Hemingway (que viveu ali 30 anos) e o presidente Harry Truman (que estabeleceu ali sua “Little White House”). Até que a cidade foi “descoberta” pelos turistas.


A natural invasão, porém, não diminuiu o charme do lugar. É certo que as ruas costumam ficar um tanto lotadas, principalmente no verão, mas nada que torne a região impeditiva. Ao contrário: se por um lado a expansão do número de visitantes trouxe previsíveis inconvenientes, por outro permitiu reunir num mesmo lugar todo tipo de gente. Como um grupo de motociclistas em suas máquinas nervosas de duas rodas. Ou um grupo de latinos descendo de algum dos grandes navios de cruzeiro que fazem parada obrigatória naquela pontinha de terra onde os Estados Unidos começam (ou terminam, conforme o ponto de vista).

Geograficamente, talvez fosse mais correto considerar ali o começo do país. Afinal, lá está a “Mile 0”, ou “Milha Zero”, o ponto inicial da famosa US 1, a rodovia nacional de 3.825 quilômetros que corta a Costa Leste norte-americana, desde o Maine, na fronteira com o Canadá, até justamente Key West, na Flórida.
Lá está também um outro marco - meio sem graça - que virou atração turística. A indicação do ponto mais ao sul dos EUA carrega uma informação que nada acrescentaria (a não ser curiosidade) não fosse um episódio da história chamado Guerra Fria - a disputa entre capitalistas e comunistas que paradoxalmente distanciou EUA e Cuba, dois países separados a partir daquele ponto por apenas 90 milhas (ou 144 quilômetros).
Se olhar com atenção talvez enxergue Havana do outro lado do mar (eis uma licença poética...).

Em terra, Key West oferece natureza farta (marcada pelas espécies tropicais da Flórida); arquitetura peculiar, com casas de madeira (que incrivelmente resistiram aos furacões, o mais devastador deles em 1935); gente bonita e descolada desfilando pela Duval Street, a rua principal, e na areia das praias.
É no mar, porém, que Key West revela o seu melhor. Águas claras, esverdeadas, daquelas em que dá para ver o fundo do oceano. E não é preciso fazer esforço: os animais marinhos vão surgindo naturalmente. A dança suave da medusa (ou água-viva) com seus “tentáculos venenosos”, o colorido dos peixes ou simplesmente a cor e as ondas do mar. Sim, vale só ficar olhando a vida se manifestar em suas mais variadas formas naquele pedaço de paraíso.


E se não bastasse tudo o que Key West oferece, o caminho até lá é uma atração à parte. É preciso atravessar todas as outras “keys” - as mais famosas são Key Largo, Islamorada e Marathon. Em comum, elas têm uma infraestrutura básica, poucas casas, áreas para camping, praias, parques com muito verde em trechos que se assemelham a pântanos – ali perto fica o famoso parque de Everglades, uma grande área pantanosa conhecida pelos barcos com hélice e pelos aligators.
Na estrada, além da sensação de fazer história por cruzar uma das mais enigmáticas rodovias norte-americanas, a sucessão de pontes ligando uma ilhota à outra (a mais famosa delas é a Seven Miles Bridge, a ponte de sete milhas – ou 11 quilômetros – na região de Marathon) e os trechos em que o mar parece tocar o acostamento são um prenúncio do que virá.

Portanto, quando for a Miami, dê uma esticadinha rumo ao sul, rumo às “keys”, rumo a Key West. Estando lá, respire e inspire. E, parafraseando a música, deixe a vida te levar...

PS: texto originalmente escrito para a revista “Máxima News”, da jornalista Rosiane Tank.

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