Zurique, um paraíso

Alguns lugares nos reservam sensações especiais. Quis o destino que meu primeiro passo em solo europeu fosse dado em Zurique, na Suíça. Confesso que nutria muita expectativa em relação àquela viagem, muito mais por ser minha primeira experiência na Europa após anos sonhando com isso do que propriamente pela cidade. Pois me recordo como se fosse hoje de cada detalhe de Zurique, uma das cidades mais mágicas que já conheci.
A Suíça começou estranha para mim. Tão logo desci no aeroporto já fui preparando toda aquela papelada tradicional da alfândega. Passa uma porta, passa outra, passa um guichê, passa outro e nada. Quando vimos (havia mais dois amigos comigo) estávamos na rua. "Ninguém vai pedir meu passaporte?", falei. Entramos no táxi, um belo carro. Curiosamente, o motorista conhecia o Brasil. Perguntou sobre o país, falou do país e de Paulo Maluf. Disse que os suíços não tinham nada a ver com o fato do dinheiro brasileiro ser depositado lá. Eu ouvia e olhava pela janela. As ruas eram um tanto movimentadas e a cidade me pareceu um pouco fragmentada.
Foi na primeira caminhada, porém, que a cidade se revelou. Zurique é simplesmente maravilhosa. Caminhar pela Limmatquai, nas margens do Rio Limmat, observar aquelas construções que parecem medievais, as torres das igrejas, os relógios, tudo era muito mais do que eu sonhava. Havia, porém, um ingrediente essencial naquela paisagem: o clima. No sentido literal - um friozinho perfeito. E no sentido literário.
Zurique é uma babel (a ponto dos próprios suíços terem dificuldade de descrever a língua que falam). Zurique é o símbolo da educação (como em nenhum outro lugar os carros - todos - efetivamente param para os pedestres a ponto de um jovem descer uma ladeira de bicicleta e cruzar uma das principais vias sem se preocupar com o trânsito). Zurique é símbolo do ordenamento (a ponto de me hospedar em pleno centro e sequer ouvir barulho de carros ou buzinas ou ter uma grande obra embaixo de sua janela e não ouvir ruídos). Zurique é o símbolo da eficiência (a ponto do carro do lixeiro - e do próprio lixeiro - mais parecer uma ambulância tamanha a limpeza, sem contar os lixos todos organizados nas ruas, em saquinhos específicos para isso).
Zurique tem bondes, de onde se entra e sai sem que ninguém o perturbe porque obviamente todos compraram os tíquetes nas maquininhas espalhadas pelas ruas (a educação é levada a tamanho grau naquele lugar que um morador assim resumiu a lei: "o país confia no cidadão e, enquanto você não der motivo, seguirá confiando; quando você falhar, porém, pagará caro"). Zurique (seus arredores, na verdade) tem vacas leiteiras como eu nunca tinha visto na vida (e, sim, elas produzem o leite mais delicioso que já experimentei). Zurique ferve à noite como qualquer grande cidade européia (e põe ferveção nisso!). Zurique é cara como as mais caras capitais européias (e você paga em francos suíços, de lindas cédulas). Zurique mistura o antigo e o moderno sem que um agrida o outro.
Sim, Zurique vale a pena. Eu logo estarei lá novamente!

Em tempo: nós, brasileiros, acostumados à selva em que se transformaram nossas cidades, dificilmente nos acostumamos com a educação suíça. Assim, não foi difícil deixar a diretora de um museu que nos recepcionou falando sozinha porque, ao cruzar uma rua, ela seguiu caminhando despreocupadamente (afinal, os carros sempre param para os pedestres) enquanto nós, o trio brasileiro, ficamos na calçada parados como idiotas esperando o carro - também parado - passar.

PS: e fui embora sem ganhar um carimbo suíço em meu passaporte...

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