Sou fã de intervenções urbanas (talvez fruto da convivência na república com dois estudantes de arquitetura durante os anos de faculdade em Bauru). Na minha mais recente ida a Nova York, em setembro de 2009, coloquei no roteiro como primeira atração uma visita ao recém-aberto High Line. Trata-se de um parque urbano suspenso, nos trilhos de uma antiga linha de trem desativada em 1980.
Tinha visto uma reportagem na TV sobre o novo parque de NY e, desde então, passei a pesquisar sobre o assunto. Soube que, na época da minha viagem, apenas o primeiro trecho do jardim suspenso da Babilônia moderna que é Nova York estaria pronto. Cerca de dez quarteirões, das ruas 20 até a 11 (ou mais precisamente da 20th St. à 11th St.). O acesso é pela 10ª Avenida (ou pela 10th Ave.) – para quem conhece NY, isso significa deslocar-se até uma das laterais da ilha de Manhattan, o West Side, já que o “coração” do que os turistas costumam visitar fica entre a 5 ª e a 7 ª avenidas. Em outras palavras, significa cruzar uma região menos turística, uma área que anos antes era marcada pela violência. O nome: Meatpacking District. A origem: antigos frigoríficos que funcionavam no bairro, agora desativados (o que dá ao local um certo ar de abandono).
Encarei o desafio de chegar até lá a pé (quem for a Nova York e trocar a caminhada pelos táxis merece uma passagem de volta ao Brasil). Fui em disparada (tinha acabado de chegar e, por não poder fazer o check-in no hotel devido ao horário, estava com todo o dinheiro da viagem no bolso). A caminhada foi um pouco tensa, mas ainda assim prazerosa. E numa esquina existente em qualquer grande cidade, com pichações, cartazes e protestos, restaurantes decadentes e prédios com ares de abandono, vi o acesso ao High Line. Na 20th St.
Mais que o local em si, era a ideia que me atraía. Transformar uma antiga linha de trem - tão comuns nas cidades brasileiras – num parque aberto à comunidade é, sem dúvida, uma iniciativa típica de locais ousados e criativos. Como Nova York.
Quando subi as escadas até o trilho-jardim, a expectativa positiva em relação à ideia se confirmou. E não só a ideia, a realidade também. Já nos primeiros passos, ainda um tanto inebriado (no sentido figurado, registre-se), senti o cheiro do High Line. Pode parecer estranho, mas o fato é que o local cheirava a orvalho. Orvalho misturado a ervas finas, talvez um pouco de boldo, não sei exatamente. O High Line tinha o aroma de um chá. Não, não é exagero. O local desperta sentidos muito mais que meramente visuais.
E visual não falta. Há trechos diversos, feitos por diferentes “designers” (paisagistas, arquitetos, decoradores, tudo isso, sei lá). Do mais rústico ao florido. Os trilhos ainda estão lá em meio à vegetação. Os bancos e espreguiçadeiras são novidade, bem como as árvores, algumas delas emergindo de pequenos vãos no chão. Num dos cantos, alunos de uma escola assistiam a uma aula ao ar livre. Em outro, uma jovem lia um livro calmamente. E eu caminhava. De repente, uma mãe passou empurrando o filho bebê num carrinho. E uma turma de estudantes subia, ruidosamente, as escadarias do acesso oposto ao que eu entrei. Eu já estava na Gansevoort St. A saída (ou talvez a entrada) de um parque que só podia ter surgido mesmo nos trilhos de Nova York. Uma cidade que não cansa de se renovar, de inventar.
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3 comentários:
perfeito, o High Line tem mesmo cheiro de chá!
Valeu grande Jorge Pontual!
Cada vez que passo por aqui, mais vontade tenho de viajar -hahaha
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