Eu conheço rios tão antigos como o mundo, e mais velhos que o
fluxo de sangue nas veias humanas.
Minha alma é tão profunda como os rios.
Eu me banhei no Eufrates, na aurora da civilização.
Eu fiz minha cabana na margem do Congo, e suas águas me cantaram uma canção de ninar.
Eu vi o Nilo, e construí as pirâmides.
Eu escutei o canto do Mississippi quando Lincoln viajou até New Orleans, e vi suas águas tornarem-se douradas ao entardecer.
Minha alma se tornou tão profunda como os rios.
fluxo de sangue nas veias humanas.
Minha alma é tão profunda como os rios.
Eu me banhei no Eufrates, na aurora da civilização.
Eu fiz minha cabana na margem do Congo, e suas águas me cantaram uma canção de ninar.
Eu vi o Nilo, e construí as pirâmides.
Eu escutei o canto do Mississippi quando Lincoln viajou até New Orleans, e vi suas águas tornarem-se douradas ao entardecer.
Minha alma se tornou tão profunda como os rios.
(Langston Hughes,
poeta)
Os rios são poéticos. A veia
inspiradora dos artistas, o pioneiro dos caminhos, a raiz das civilizações. Desde
os primórdios, foi o que os homens procuraram para se estabelecer – um rio.
Fonte de água, de alimento, de vida. Meio para idas e vindas - aliás, paradoxalmente, eles ligam e dividem, pessoas e territórios. Ontem, hoje e sempre.
Os rios carregam em suas
veias (o rio é uma veia, ora!) a história, a tradição, as lendas de um lugar.
Eles são a história, a tradição, as lendas. O Tigre e o Eufrates, berço da
Mesopotâmia; o Sena e o Tâmisa, intrinsicamente ligados a Paris e Londres que
viram nascer; o Tejo, de duas nações e um Novo Mundo.
Os rios têm, sem dúvida,
muito a contar. Basta saber ouvi-los, dialogar com eles. No silêncio de suas
águas calmas ou no furor das águas turbulentas, estão sempre tentando nos dizer.
E o toque, ah o toque... Tocar um rio é sentir toda a energia de suas águas,
toda a força do seu poder. Um toque capaz de traduzir história, tradição e
lendas.
Os rios, ah os rios... Tejo,
Sena, Tâmisa, Mississipi... As águas douradas do Mississipi, lembradas pelo
poeta, contam a história da escravidão, revelam a tradição do blues, do jazz,
do rock que por ali nasceram, trazem as lendas seculares da nação que atravessa.
De norte a sul, até o delta em Nova Orleans e toda a cultura negra e do que
dela resultou. Tocar o Mississipi é preciso. Tocar no Mississipi é preciso.
Junção, fusão, coesão de criatura e criador, de música e inspiração, de ritmo e
cores.
“Mississippi, you'll be on my mind”, canta o cantor. “Mississippi,
you roll along until the end of time”, diz a canção. Até o fim dos tempos! Se
permitem, são perenes os rios. Seja Chico ou Francisco, o Negro e o Solimões.
Tietê, Parnaíba, Paraná. Amazonas e Nilo, dos faraós à primavera juvenil,
milênios de história marcadas em suas águas. Até o fim dos tempos assim será –
se permitirem.
Os rios sempre são uma
experiência singular, única e fascinante. Poucos lugares possuem um valor
simbólico tão significativo quanto um rio. Ignorar este valor ou subestimá-lo
terá sido uma perda. Só quem vive a experiência enriquecedora de observar,
tocar, sentir um rio com reverência pode testemunhar este valor. Pode, tal como
o poeta, exclamar: “Eu conheço os rios”. Pode, tal qual no poema,
certificar-se: “minha alma é tão profunda como os rios”.
Os rios e as almas guardam
uma relação especial. Transmutam-se. Por alguns instantes, coexistem.
Compartilham. Convivem. É algo assim transcendental, mágico. Sim, toque o rio,
fale com ele, ouça-o. E se for um daqueles como o Mississipi, o Tejo, o Sena,
lembre-se que eles têm algo a ensinar. Por longos séculos, viram brotar às suas
margens pequenos grupos, vilarejos, cidades, metrópoles, o mundo.
Os rios, ah os rios... Eles
cantam e encantam. Para sempre e em todo lugar. Estão ali como observadores
silenciosos, vez ou outra manifestando uma revolta, provavelmente contra algum
mal que lhe fizeram ou lhe ameaçam fazer. Sim, porque são vivos os rios. Forças
vivas da natureza, ainda que muitas vezes afetados pela ação do homem.
Os rios – inspiração de
poetas, cantores e pintores. Manchados pelo sangue derramado nas batalhas da
história. Testemunhas de glórias e derrotas. Caminhos para novos e velhos
mundos. Fontes de vida e sabedoria. Ora protagonistas, ora figurantes, ora meros
espectadores da saga da humanidade. Feliz de quem pode dizer: “Eu conheço os
rios”.
Os rios, ah os rios...
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